Carta ao Ingrato Filho da alva, meu... Rodrigo da Silva Marques

Carta ao Ingrato

Filho da alva, meu filho insensato,
Por que tu estás a agir assim comigo,
Não fui eu quem te criei, amamentei e formei?
Não fui eu sua amada mãe, ó ingrato?

Por qual razão arrancas de mim meus vastos cabelos,
Pelas traquinagens sem fim, rasgas meus seios,
Desgastas aos poucos a doce pele,
Tirando e sugando meu sangue?

Ingrato! Não percebes que sem mim nada sois?
Peço-te como mãe, pares de me maltratar,
Nem que seja por pouco tempo,
Deixes minhas feridas cicatrizarem.

Meus vastos frutos dos olhos azuis tu avermelhastes,
Seus irmãos do próprio sangue matas,
Um a um sucumbem perante ti,
Filho cruel, sua justiça chegará!

Meu delicado perfume quebras,
Em mil pedaços estão a debater-se,
Você foi capaz de ferir-me no ventre,
O umbigo de onde saístes.

Queria eu que você percebesse,
Que suas atitudes são tão horripilantes quanto Nero,
Tão sombrias quanto o coração de Hitler,
E tão sedenta de seiva humana, que Nosferatu foge de ti!

Filho, meu filho querido,
Já não basta os anos de dor?
Ainda não aprendeu que tudo volta,
Em boa ou má colheita?

Pena que quando perceberes a sua mania,
Já será tarde demais meu filho,
Não haverá terra, mar, céu, campo, nada mais.
Jazes meu corpo ao relento, da sua tão amada;
Mãe Pátria Terra.