Como se vai acendendo (adaptado de como... Alexandre Scaldaferri

Como se vai acendendo (adaptado de como se vai apagando)

Uma figura cheia de contornos e desenhos, alinhava a feição ocupando um espaço repentino na sua frente.
Prazer sou eu, prazer é meu.
Algumas palavras de sons agradáveis e os olhos brilham no cruzar do contato rápido. Pele agradável aveluda o toque. Algumas palavras de conteúdo interessante aguçam a curiosidade. O cheiro chega por meio de partículas carregadas pelo ar e alerta os sentidos. Uma atitude sobre algo pequeno se destaca, outro momento, outras coisas imperceptíveis já importam. Cria-se a vontade que leva a encontros quaisquer, encontros significativos.
A trilha percorrida impõe suas dificuldades, mesmo que pequenas, e o que se espera não acontece.
Surpresa interessante desperta.
Na escuridão repentina uma mão está lá reconhecida e pronta para confiar e percorrer. Um ouvido a escutar, interesse genuíno, uma vontade de construir juntos. A atenção aprofunda o conhecimento do outro, suas virtudes e forças, desilusões e ilusões, felicidades e tristezas, desnudam-se sentimentos.
Vamos parece algo surreal e vamos.
A trilha não é fácil e mesmo nas lágrimas sorrisos são arrancados. Sorrisos aparecem estimulados pela simples vontade do cuidado.
A porta apesar de fechada vê passar por ela um filete de luz, num dia, numa hora, num momento. E assim um pontinho vai virando algo que se passa a prestar atenção. Uma nova figura, um novo desenho à frente, atrás, ao lado e o vazio começa a se preencher. Palavras são ditas, palavras seguidas de atitudes coerentes, consequências refletidas na mente e no coração que se reconhecem tomando o mesmo caminho. Um cuidado, um respeito, um admirar, uma inteligência peculiar.
Tudo verdadeiro, honesto e transparente.

Assim, a chuva chega e lava e deixa virgem o chão para novas trilhas serem traçadas, novas montanhas e novos caminhos. É como uma ideia que nasce e vai crescendo, até tirar o folego que rapidamente se expressa com o lápis roçando o papel e neste roçar para lá e para cá, freneticamente as linhas vão sendo escritas seguindo a empolgação que vislumbrou algo incrível no final onde a vista e o coração alcançam. A cada palavra sobem os batimentos, emoções se acumulam, prazeres são experimentados, gozos sentidos, corpos contorcidos no prazer de se misturarem.
Vivências são sentidas.

A altivez de um ouvido que ouve o outro vai rompendo barreiras e afastando pedras e acalmando rios. Atos impulsionam a empolgação, intensificando emoções, criando a sensação do que poderá ser. E de repente encontra desavisado objetividades, atenções, cuidados, viagens da justa medida de dois, da vida.
Sentimentos não mais escondidos e enraízam como árvores amazônicas.
Verdades expostas em qualquer cenário, verdades expostas como um soco na cara e um afago no coração.

O lápis colore, a folha se remenda, o folego sustenta o junto, a linha se refaz, o vislumbre encara frente a frente a realidade.
E tudo vai se acendendo.
E tudo vai se transformando. A árvore cresce, as frutas nascem, e como no início com o big bang cria-se tudo e tudo se ordena na sua mais perfeita imperfeição.

Tudo limpo, tudo claro, a chuva lava e alimenta, a lua cumpre seu ciclo e o sol deita a energia, o novo vem transformar e alimentar de amor e experiência o jardim. Ali então começa a surgir novo bosque, mais belo, mais forte, mais verdadeiro e escancarado, sem ocos, sem buracos, sombras belas, linhas novas iniciam novo livro, novos capítulos que se esperam nunca terminar ou terminar juntos.