Naquele tempo bebia a solidão quase... Dilmar Gomes
Naquele tempo
bebia a solidão quase absoluta
inerente à quietude harmônica da natureza.
De permeio, aspirava algo que quebrasse
o veio tedioso da tranquilidade;
talvez uma pedra lançada na calmaria do lago
ou a réstia de vento a debulhar o campo de trigo.
Naquelas manhãs pretéritas
banhava o corpo nas gotas suspensas,
no rosto luminoso da fonte,
navegava nos fluidos das essências sagradas,
integrado à sabedoria da unidade,
mas quando ousei, num passe de mágica,
agir sobre a face de gaia;
nomeando, adicionando e dividindo,
me perdi nas trilhas bifurcadas do eu.
Acho, que dentre as coisas
que desesperam o homem,
talvez a mais exasperante, seja
absorver o cotidiano embebido de paz,
tanto, que cedo ou tarde,
lá vai ele, criatura inquieta,
à procura de guerra,
e na falta de inimigos,
destrói a si mesmo.