"Viagem irreal" No tempo sem... Diógenes Oliveira
"Viagem irreal"
No tempo sem fim, sem inicio e sem meio;
as batatas brotavam entre nuvens carregadas,
os crocodilos andam de aviões movidos a lenha,
o zumbi ultrapassava paredes vaporosas e as cigarras
na frente do espelho enfeitavam-se para a nupcia mortal,
crianças brincavam de papai e mamãe sem engolir a hóstia sagrada;
hóstia sagrada não se engole mesmo,
caixões ocos levando outros caixões ocos dentro de outros caixões ocos,
sem alças e sem pregos,
fumaça com as cores do arco-iris evaporavam-se de chaminés subterrâneas e seguiam ao encontro de pessoas carentes, ardentes de amor,
um metro de esperança ainda pulsa nas entranhas do ser vivente, que insiste em manter-se vivo, mesmo que suas forças tenham sido acorrentadas e marcadas com ferro de propriedade privada,
e do solo brotam raízes quadradas, que levada ao quociente, não chegam a um denominador comum perfeito,
mentes pagãs que mentem numa insistente tentativa de alterar a já escrita registrada na página amarela do dicionário linguístico;
o ultimo tiro, a ultima bala risca o espaço entre o cano e o alvo em preto e branco em forma de surrealismo pintado por Miró,
A faca encravada no coração transforma a dor em profundo suspiro.
Adeus dia, adeus noite, adeus elementos da natureza pulsante.