Existem coisas que acontecem em nossa... Mark Mendonça
Existem coisas que acontecem em nossa vida que pensamos que nada mais vai fazer sentido. Com o passar do tempo você pensa que aprendeu e que tudo o que aconteceu, agora faz parte da sua história e serve como aprendizagem. Pois bem, só que lá estava ela, novamente como personagem principal da história, sentada no sofá e escutando ele dizer que acabou. Não importa o jeito de se dizer isso. Algumas pessoas tem um coração tipo que de papel, e toda hora ficar apagando vai rasgando, borra ou pior, as vezes, acreditamos tanto nas palavras, que às escrevemos de caneta. Você pode passar um branquinho, mas sempre vai saber que existia algo escrito ali. Algo que devia ser permanente. Devia ser pra sempre. Não é o fato de acabar que fazia ela chorar. E sim a falta de sensibilidade de ele começar algo que significasse tanto pra ela que para ele parecia ter nenhum sentido. De não ter avisado ou dado sinal de que seria um passeio e não uma longa viagem. Você se prepara faz as malas e quando menos percebe volta para o mesmo lugar. É isso que dói. É foda. E o mais foda é que ele fez isso no meio de uma festa. Sabe, não é por maldade, mas é uma falta infinita de sensibilidade e caráter. Ele nem parou pra pensar como ela iria se sentir. Ele arrebentou o coração dela e obrigou ela a fingir que estava tudo bem. Não é por maldade? Sei não. Ele queria abandonar ela de um jeito que não o fizesse sentir-se culpado. Levou ela na festa onde suas amigas estavam e terminou com ela, pois imaginava que lá ela não iria desabar na sua frente. E assim ele ficaria com a percepção de que ela levou tudo numa boa. O fato é que ela parecia ser forte como uma montanha, mas quando vieram as lágrimas... é, até montanhas demoronam com muita água. Foi covarde. Ele se levantou e foi se animar com os amigos como que "vida que segue". E ela teve de ir embora sem rumo e tonteada como que "a vida acabou". Como ele pensou que ela ficaria? Idiota. Ela alcançou a porta e saiu, algumas amigas foram atrás dela saber o que tinha acontecido. No fundo elas já sabiam, mulher sente essas coisas. É muito bom ter amiga nessas horas. Era tarde da noite e chovia muito lá fora, mas tudo que ela precisava era se afastar daquele lugar. Ela saiu na chuva sendo apoiada pelas amigas e não aguentou. Suas pernas já desistiram de suportar tudo isso e ela sentou toda perdida no chão da calçada, sem se importar com nada. E chorou inconsolada. Suas amigas se juntaram protegendo-a com um guarda chuva e também de coração partido em ver tamanha decepção. Algumas sabiam na pele o que ela sentia, outras sabiam que cedo ou tarde poderiam sofrer tal qual. Eu vinha pela calçada e vi de longe um tumulto, não tinha ninguém na rua. A história dela cruzava o meu caminho. Passei devagar e ouvia o som do choro. É como uma morte. Algo morreu dentro dela. A maquiagem que ela fez escorria pelo rosto, hora por lágrimas e hora pela chuva. Seu cabelo de horas no salão já tudo bagunçado. Não pude deixar de reparar sua formosura. Era bela tipo como uma princesa. Passei como se eu não existisse. Segui meu caminho. Cheguei no meu apartamento e da minha janela dava pra ver ela sentada na calçada. Não consegui dormir. Fiquei ali olhando pra ela, velando seus sentimentos. Suas amigas, uma a uma, foram indo embora até que ela ficou só. O Sol brilhou e o dia se fez lindo, como daqueles dias perfeitos. Mas pra ela era só um novo começo. Fui o último a deixá-la, me deitei e rapidamente dormi um sono profundo. Não sei quanto tempo ela ficou ali, mas quando eu acordei ela já não estava mais lá. Até hoje eu me lembro dela. As vezes eu penso se deveria ir lá e fazer companhia a ela. Mas na verdade eu acho que o que ela queria era apenas ficar sentada ali, porque quando ela levantasse seria apenas mais uma história, mais uma aprendizagem.