Haverá um tempo... Haverá um tempo em... Mel de Carvalho
Haverá um tempo...
Haverá um tempo
em que a fundura da terra
terá as cores da água cristalina
cimentada na ternura que pressinto
na ponta dos teus dedos de ventos quiméricos
Haverá um tempo, chegado na hora
incontornável do sol-posto,
em que, do mar aberto e resoluto,
se elevarão papoilas verdes
a emoldurar o contorno recto do teu rosto.
Um tempo em que a água finalizada
se escorrerá nas faces plásticas da madrugada
de um céu encapelado denso e profundo.
Em que a noite persignada
calará a saudade e a lágrima arrecada
na original raiz duma árvore.
Haverá um tempo por fim, amado,
um tempo desabrochado, nosso, preceituado
no abstrato instante de um momento
conglutinado no corpo dum abraço.
Um abraço intenso,
implodindo telúrico para além de nós,
na imensidão infinita do Sideral Espaço.