Já disseram que minha vida vale nada... Kevin Martins
Já disseram que minha vida vale nada
que eu nasci onde não devia
certo
na hora errada
Já disseram que sou triste
alegre de mentira
poeta de verdade
amargurado de saudade
poeta
nem sei o que é isso
só sinto o que sentem
suscito os que mentem
Ainda trago o trago
o cigarro amargo
a camisa amarrotada
a vela já findada
e os amores da amada
Rimo
o limo
do peito que trouxe
das águas paradas
que se fizeram
sem ti
O povo ama a dor
amador o que finge amor
doí
as saudades que senti
senti as saudades que morri
A desigualdade do meu filho
que perante ao senhor patrão
sofre a exclusão
de ser maltrapilho
machuca aqui
o pai que luta por ele
por nós
por ti
Até quando, meu senhor
Até quando serei julgado pelo ouro?
Até quando, amor
serei enganado pelo tolo?
Falo do chinelo que usei
do dedos que ralei
dos olhos de meu pai
quando viu que era pai
e me abraçou
E os filhos que sem pai
esse mundo deixou?
Eu luto pelo meu semelhante
pela falta do seu livro na estante
pela falta dos instantes
que seu pai deveria dar
do amor que ele deixou na sacola do mercado
que ele deixou de pagar
Eu sou seu pai, filho
eu sou seu irmão
sou tudo que lhe falta
sou eu quem lhe estende a mão
Sou fraco
forte
choroso
amargo
doente
vergonhoso
Mas sou nosso
de coração e alma
me abraça
essa rua ta sem graça
mas melhora
eu sou você
e essa estrada mundo a fora.