AUSÊNCIAS DE TODA UMA VIDA Eu... tadeumemoria

AUSÊNCIAS DE TODA UMA VIDA

Eu empacotava os meus olhares, guardava bem no íntimo tudo de lindo que ia além do verde das colinas, acalmava a ansiedade que começava nos teus colos, nos teus lábios, eu empacotava as horas, a vida, era o trabalho; depois planejava algumas rimas iluminadas pelos teus dentes, aquecidas pela tua pele; era passional ou fascínio pelo perigo; afora isso o desejo de documentar a inspiração: era fácil ser poeta, tanto que a solidão doía conduzida por um corredor à suburbana fascinante e perigosa. A noite doía nos ossos com o frio de junho e as ausências de toda uma vida, então eu revivia nossos melhores momentos. Planos? Por mais que os fizesse ao amanhecer dissolviam como sorvete com os primeiros raios da manhã, era a pressa incessante de viver que compõe a juventude compassada pelos hits do blacak que mencionavam as despedidas mais tristes, as incertezas mais certas, o ponto mais sensível dos nossos espíritos juvenis desamparados por seres supremos que movem o universo. Quantos sorrisos belos, quantos belos sorrisos; depois do expediente brilhantina e contouré depois de um banho rápido eu ainda me apaixonaria umas três vezes até a meia noite, depois sonharia com a “dentes de madrepérola” ou com o busto de Brigitte, qualquer musa... era fácil ser poeta só faltava-me tempo para observar o nascente, e o crepúsculo se perdia atrás de torres de concreto ou nos corredores frios de olhares perdidos em faturas e memorandos; uma rotina só abalada por um ou outro suicida que ousaria resolver a vida com o voo de alguns segundos, mas nada que obstaculizasse o cotidiano, o IML era prestativo e rápido e os curiosos se dispersavam com ares de impotência diante da morte. Uma ou outra mancha de sangue permaneceria como prova inconteste de como a vida pode ser cruel, no entanto o amor se sobrepõe, a poesia flui e assim, sem fatalidades e desesperos de um suicida; voamos...