"A IDADE ESTÁ NA NOSSA... Lavínia Lins
"A IDADE ESTÁ NA NOSSA MENTE", por Lavínia Lins.
Duas características que fazem a gente ficar na dúvida se são boas ou ruins: ser observador e ter boa memória. Eu carrego comigo o doce conflito. Estes dias, fiz mais um ano de vida. São 30. Sim, 30. Eu sei, eu sei, não pareço ser tão “velha”. Velha, eu?!
Mas, vamos lá. Cresci ouvindo meu avô dizer: “a idade está na mente de cada um. Eu, sou jovem!”. Achava, à época, que aquela era mais uma das estratégias dos mais velhos para parecerem mais novos. Ria, fazia elogios à pele conservada dele, mas, no fundo, ainda achava que era “conversa de gente mais velha”.
Quando se é muito “jovem”, tudo o que a gente quer é que venham boas notas nas provas do colégio; ganhar uma medalha nos jogos internos; que aquele “paquerinha” perceba a nossa existência - mas só quando os cabelos estiverem devidamente escovados e a pele sem espinhas. Mais à frente, passar no vestibular; sentir que está no curso certo; arrumar um namorado legal, que nos dê atenção e bombons... formar, ter um ótimo emprego, casar e ter filhos.
Simples, não? Mas, não é só isto!
A vida tem nuances que só quem a vive com observação aguçada e memória viva pode enxergar. Como disse aqui no começo, carrego estas características, nesse ser incontrolavelmente sedento por entender como tudo passa tão rapidamente. E como passa!
A vida vai cobrando, e a gente, sem perceber, vai correndo, freneticamente, sabe Deus pra onde. A gente só quer chegar. E quando se dá conta, nem sabe o porquê de ter vindo. Só que veio. Então, reflete sobre o tempo e sua efemeridade. Faz as contas, e não entende como fazer para dar conta do tanto que ainda há pra ser feito.
Os anseios vão sendo lapidados e os medos aumentam. Damos conta que aquela espinha, nada bem-vinda, era só um tolo detalhe; que os cabelos não escovados tinham até um charme; e que, talvez, não casar e não ter filhos seja uma possibilidade, tendo em vista que, lá fora, há tantas outras formas de se sentir realizado. Tudo bem, eu ainda quero casar e ter filhos... mas, e se não? Que mal haveria? E seu eu quisesse deixar aquela velha profissão cheia de burocracias e decidisse ir mais longe, além da fronteira mesmo, com mochila nas costas e sonhos nos pés? Tenho certeza que seria divertido. Muito, mesmo!
Mas, a gente acaba sem sair do lugar, porque tem medo de "fazer loucura", trocar "certo" por "duvidoso". E, tantas vezes, deixa escapar, pelos dedos, a oportunidade de ser mais feliz. Até porque, se não desse certo, a gente ainda poderia tomar um novo rumo. Há sempre chances de recomeçar...
Por fim, vamos concluindo que a vida não pode ser tão planejada, esculpida... no máximo, cabe uma breve idealização. Mas, ideal é coisa que vai se transformando; e, muitas vezes, nem se percebe esta mutação. No fundo, a gente só não quer é parar de sonhar. E ter tempo pra realizar os pequenos desejos que vão surgindo no decorrer dos dias.
Vamos mudando o rumo dos pensamentos e passamos a entender que aquela ideia de que “velho” era quem coloria os cabelos brancos; quem tinha netinhos; quem contava histórias citando, ao menos, o ano em que se passaram, é coisa sem sentido.
Não... “velho” não é nada disto. “Velho” é aquele que se sente cansado demais pra sonhar, pra desfazer e começar tudinho, de novo; é aquele que acha que a idade determina onde, quando e com quem se deve estar. É alguém que esquece de olhar pra dentro e deixa adormecer, sem retorno, aquela criança cheia de planos e desejos quase impossíveis, mas que lhe serviam de combustível pra acordar e seguir em frente, recheada de sorrisos e esperanças.
Vovô está certo. Sim, está! Ele vive, e vive melhor que muitos “jovens” por aí. Estou com ele. Hoje, na mesma faixa etária mental, posso dizer: SOMOS JOVENS, VOVÔ... bem jovens!
Abraço, com estas palavras, vocês, pessoas tão jovens quanto vovô e eu!