Percebendo que seu coração era de... Mark Mendonça
Percebendo que seu coração era de pedra, ela foi lá e escreveu seu nome em letras maiúsculas e com um beijo se despediu.
Na marca bordô do batom ficou sua saliva, que, cheia de sabor, a rocha penetrou. Camada a camada se infiltrou e preencheu todo o seu interior. Onde era um vazio agora existia amor, onde era frio agora sentia-se o calor.
Qual foi seu desejo?
Ela desejou que nunca mais seu nome se apagasse dali. Como quando se ama alguém e nunca vai tê-lo, mas mesmo assim, mantém-se esse sentimento como algo que você precisa para poder existir.
Era de pedra porque seu coração era capaz de regenerar a cada sofrimento.
E quanto mais regenerava, mais ele rasgava, mais rígido se tornava e mais intensa dor suportava.
Assim foi amando e sofrendo. Tanto amou e tanto sofreu. Cada vez mais desejava sentir dor e sofrer o amor.
Quanto mais forte era a dor, mais forte e intenso era o amor. Mais rígido ficava. Mais amor desejava.
Ele buscou o amor pleno. A dor mais dissonante. O desespero. A falta de ar. Aperto no peito. Lágrimas espremidas. A verdade. O apelo do infinito.
Ele sabia que o medo de sofrer impedia que ele experimentasse o que é o amor. Descobriu que o tamanho da dor é a medida do amor.
Virou pedra e agora só um último e maior amor poderá surgir. Um tão forte que só acabará na morte.