O cotidiano das coisas Na fila dos... Douglas Rodrigues da Silva

O cotidiano das coisas


Na fila dos trens, nos pontos de ônibus, no estresse do metrô,

o gado humano vai em busca do pasto seco pra num morrer de fome.

Multidão de operários, todos em comum acordo

de não levar pra casa a má notícia de mais um não.

A falta de oportunidades mina os recursos.

As crianças pedem incessantes

por um pedaço que seja dum pão sem gosto.

Mas o sol pungente esfacela a poeira da expectativa de qualquer futuro.

A vida é sina errante por uma estrada tortuosa.

Miserável cotidiano de sonhos destruídos pela dureza dum caminho

cheio de falhas e falta de sinalização.

A espera de mais uma chance pra tentar fazer diferente

e de novo o mesmo erro de pensar que tudo não é mais igual.

A cova dos meus penhores não atormenta a memória em desalento com a realidade.

Viva cada dia a seu próprio curso.

Mais que pseudo promessas são as realizações,

a concretude do destino, a terra sob os pés, o céu sobre a cabeça.

No final de mais um turno, a única certeza é que parados não vamos a lugar nenhum,


nunca.