J É desvairada a forma como observo o... João Guilherme Novaes
J
É desvairada a forma como observo o alfabeto. As letras me perdem quando me atenho a escolher quais delas devo usar para criar um nome de alguma personagem. É uma tarefa arriscada. Embaraçosa. Escolha de nomes exige esforço. Exige atenção. As letras saltam de todos os cantos para mostrar-nos que a escrita é uma arte incalculável e que nos penetra com uma veracidade tamanha, capaz de nos arrancar o fôlego. Arranca e desarranca.
Certo dia, um desconhecido me fez uma pergunta tão peculiar que rapidamente procurei uma forma de desenhar minha resposta, de modo com que eu simplificasse rapidamente, sendo poético e utilizando uma letra. Fechei os olhos e respirei fundo – de fato não tenho um respaldo longo para estes tipos de perguntas – e comecei a respondê-la.
“Imagine um J.” – indaguei.
Ele balançou a cabeça positivamente. Estava imaginando.
“Repare que o ‘J’, é formado por uma linha e uma curva” – concordou com o que eu estava dizendo – “Então, resumo a isso, a linha é o caminho que trilhamos e quando estamos trilhando este percurso, nossas imaginações afloram gradativamente, os olhos brilham e nossa mente focaliza apenas o caminho no qual estamos. Não olhamos para o lado. Continuamos em frente. Mas...” – parei de falar. Um suspense.
Ele franziu as sobrancelhas como quem estivesse curioso.
“Vêm a curva” – continuei. – “Esta letra tem uma curva” – ele concordou.
E exemplifiquei.
“Nesse momento, somos domados pela razão e o longo caminho reto, torna-se apenas uma lembrança, pois o que vem pela frente é totalmente diferente. A curva mudou os rumos” – bufei comigo mesmo.
Meu amigo me fitava seriamente, mas não entendera o desfecho de minha explicação.
“E termina por aqui?” – perguntou.
“Se encompridarmos esta curva, vira um ‘U’” – rebati.
“E por que você não termina?” – ele perguntou.
“Fica para uma próxima” - falei.
Ele fingiu que entendeu.
Essas coisas são difíceis de entender. Principalmente, com perguntas peculiares, como a que ele fez.
Ele perguntou-me: “O que é o amor?”
(diante do reflexo de um espelho que mostrava o meu rosto).