Essa é pra quem gosta de história… A... Guilherme Luiz

Essa é pra quem gosta de história…
A história da ‘Casa da Eny’
*No inicio dos anos 1960, um compositor da musica popular italiana compôs uma canção com o titulo A casa da Irene. “Na casa da Irena, se canta se ri, É gente que entra, é gente que sai”. Podia ser uma casa de família onde muita gente ia e voltava de visitas que sabe de uma família numerosa. Mas não, para quem ouvia, a letra a letra se referia há um Bordel.
Mas muitos anos antes dessa musica, no estado de São Paulo já tinha A Casa da Eny, a maior casa do meretrício de São Paulo, quem sabe se do Brasil. Ficava na cidade de Bauru 500 quilômetros distante da capital. Foi a casa mais dita na imprensa ou em qualquer recinto onde o sexo era comentado. Qual o time de futebol varzeano quando foi jogar em Bauru, ou cidade próxima, que não parou a porta do estabelecimento do “amor” para fazer uma visita e conhecer belas mulheres que alugavam seus corpos por alguns minutos?

Madame Eny
**A proprietária era: Eny Cesarino (ou Sarino, segundo outras fontes), filha dos imigrantes José Cesarino, italiano, e de Angelina Bassoti Cesarino, francesa, nasceu em 1916 no bairro da Aclimação em São Paulo, morou em Uruguaiana e aportou aos 23 anos, em 1940, para trabalhar como inquilina de Nair, na Pensão Imperial.
Passou a gerente, arrendou e finalmente comprou o “ponto” e a casa da antiga zona de meretrício, na rua Rio Branco 5-50, esquina com a Costa Ribeiro, tendo logo se destacado dos demais, pela sofisticação e luxo que seu bordel oferecia.
Em função da lei municipal que proibiu a permanência da zona do meretrício em área central da cidade, no final dos anos 50, Eny, antes proprietária da Pensão Imperial, transferiu-se para fora do perímetro urbano, construindo o Restaurante “Eny’s Bar” em propriedade particular, ao sul da cidade, em área transacionada através da Prefeitura, diversamente das outras Casas que foram confinadas no extremo leste da cidade, no “formigueiro” ou Novacap, a zona determinada pelo poder municipal para o baixo e médio meretrício, em terrenos de Edgar Bicudo.
A casa da Eny, se situava agora junto ao trevo rodoviário que liga as rodovias Mal. Rondon, Cte. João Ribeiro de Barros e Eng. João Batista Cabral Rennó – hoje oficialmente denominado Trevo da Eny, a fase áurea do seu luxuoso bordel se deu entre 1963 e 1983.

O maior e mais luxuoso bordel do Brasil, inigualável na América Latina, tinha 5.000 m² de área construída, distribuídos em 12 conjuntos, 7.000 m² de jardins e alamedas floridas, protegidas por muros, com a maior piscina particular da cidade, sauna, restaurante e lanchonete, além dos quarenta quartos e suítes, com cama redonda e poltronas Luís XV, e uma suíte presidencial, com entrada privativa. A pista de dança, ao ar livre, tinha formato de violão, cujo “braço” era a entrada para a churrascaria: tudo de uma beleza e requinte inconcebíveis para um bordel, em 1963 (anos antes do La Licorne, na capital).
Contudo, os serviços mais destacados eram a qualidade das mulheres e o sigilo/discrição garantidos pela proprietária – na verdade, sua marca registrada, como se verá. Vinham as lindas moças de toda a parte, recrutadas até do Paraguai, Argentina e Uruguai. Eny nelas investia: antecipava-lhes dinheiro para roupas finas, jóias caras e salões de beleza (o da Dirce era o melhor, também freqüentado por “senhoras da sociedade”); tudo do bom e do melhor para a clientela constituída por gente muito rica, famosa, políticos e afins. “Segundo se diz, passaram pelos aposentos da Eny, dois terços de todas as assembléias legislativas do Estado de São Paulo nos últimos anos, muitos governadores de Estado e prefeitos da região, boa parte dos grandes plantadores de cana e os filhos deles e pelo menos um Presidente da República”. A memória de quem trabalhou lá (garçons e novas donas de bordéis locais, iniciadas por Eny) evoca: Chico Anísio, Juca Chaves, Clodovil, Roberto Carlos, Vinicius de Morais, Jô Soares, Laudo Natel, Paulo Maluf, José Sarney, Orestes Quércia…, para citar os mais conhecidos.
O fato é que Le Bordel fazia as vezes de “centro de convenções” do estado, muito antes de terem sido criados os primeiros deles. Bauru já era o lócus para fechamento de grandes acordos de empresas e indústrias de porte – como notícia a imprensa local, inúmeras vezes -, pois a comemoração com chave-de-ouro na Eny era obrigatória.
A Bardahl e a Dedini, ali promoviam suas convenções de final-de-ano para diretores e representantes, além das reuniões para os delegados das convenções políticas, no período da ditadura militar.
Ora, nada mais previsível que esta hábil administradora (que, dizem, deteve a maior fortuna de Bauru da época, com 24 casas só no Parque Vista Alegre), exercesse também grande força política: por exemplo, em menos de 24 horas fez revogar a ordem do Delegado Regional de Polícia, Francisco de Assis Moura, que determinara o fechamento da sua Casa, por não estar no local determinado ao meretrício, na Novacap, e elegeu, em 1963, o vereador Marco Aurélio Brisolla.
Conta Nicola Avallone Jr., ex-prefeito, em entrevista à Revista Bauru e Região (Ano I nº 1, set/93) que um delegado de polícia – querendo agradar o Jânio Quadros, o grande derrotado em Bauru – fechou a Casa da Eny. O fechamento durou três horas. Reabri com a presença do Juiz Otávio Stuchi – uma personalidade fantástica. Fizemos um comício em prol da Eny. Provamos ao Juiz – que a Eny era um elemento agregador e não desagregador. E essa mulher teve tanta visão que transformou-se na Dama da Caridade. Porque queríamos tirar a zona da 5-50 da rua Rio Branco, porque ficava a 50 metros do cinema, na área central. Nós ajudamos a transferência do bordel para a rodovia Bauru-Ipaussu. Quem decidiu o local fui eu. Arrumei mais nove companheiros para ajudar. O local estava abandonado. Era um posto de gasolina. A área foi comprada e transformou-se em coqueluche nacional. Ela financiava escola, creche, entidades de freiras. Mulher fantástica, de marcante presença na vida fraterna de Bauru.
Nicolinha conta também que: – até candidato era definido ali. Era o pólo mais importante de Bauru. Os meus hóspedes assinavam o ponto na Casa da Eny. Ela era anfitriã. Até um príncipe austríaco que veio a Bauru instalar uma cervejaria – a Vienensse – visitou a Eny. Ele e quatro engenheiros ficaram tão encantados que depois voltaram para visitar o bordel.

Eny era bastante conhecida na cidade e na região desde os anos 40, quando se mudou para Bauru; mas, de 1963 ao início dos anos 80, sua fama cresceu e seu bordel tornou-se um dos mais notáveis do país, até ser desativado em 1983 (a propriedade foi vendida a grande empresário de ônibus da região, Dolírio Silva, que a revendeu; hoje pertence ao médico psiquiatra, ex-deputado estadual, Fauzer Banuth, e permanece fechada, sem uso algum).
Mesmo não existindo mais, a “Casa da Eny” é ainda referência para e sobre Bauru, citada, até hoje, em jornais e na TV.
Jânio Quadros durante a campanha eleitoral de 1960 para a presidência da republica fez uma visita a Casa da Eny. Jânio foi muito receoso de ser comentado como ter feito uma visita de para outros fins que não fosse para a captação de votos já que Eny era muito querida por lá, assim dizia Nicolau Avalone Jr, deputado e posteriormente prefeito, e nascido naquela cidade.
Quando o escritor Lucius Mello,chegou a cidade de Bauru, em 1988, ela estava de luto, pois Eny tinha falecido em 1987. As pessoas falavam de Eny como muita admiração e com muito orgulho por ter tido uma cafetina como um símbolo da cidade. Isso me impressionou disse o jornalista e escritor. E a partir daí veio a idéia de escrever um livro sobre sua vida.
Percebi que o povo de Bauru queria que essa historia fosse contada. Em qualquer lugar que ia aos bares, nas festas sempre tinham pessoas que falavam dela. Daí saiu o livro sobre o grande bordel brasileiro.