Percepção do Momento No tão... Mariana Guerreiro
Percepção do Momento
No tão confiável escuro de um cômodo muito cômodo, ao som da respiração pesada e ofegante , tão pesada que poderia até se ouvir os sons dos altos pensamentos. Ficaram ouvindo esse silêncio cálido, que da ao ar a imagem de todas as transcrições das tantas verdades substantivadas,essas que dão função ao verbo “ amar”.
Nada as atormentavam, pegavam o mesmo verbo conjugavam e desconjugavam,cada uma passeava na variação de tempo do mesmo tema , encaixando-o pronome por pronome , simples e composto,perfeito e imperfeito, rodeavam, rodeavam uma para cada lado, como se tivessem solitárias, ligavam o pensamento uma a outra ,era apenas uma síntese da saudade de corpo presente que sentiam. Até céticas se virarem .
Olhavam bobas, descrentes, apavoradas e vislumbradas o mesmo ponto de pensamento que estacionavam , tentavam ainda desconfiar de suas visões e intuições, até que se encontravam as mentes, as mãos, os olhares e os corpos, ironicamente na mesma intensa epifania.
Criavam naquela penumbra a mais grave das admirações, que vinha lumiada a luz de uma pequena vela acesa na lanterna esquecida ao canto da cômoda, a luz tão fraca que dava até certa magia ao ambiente, não era preciso enxergar tanto, seus corpos conversavam desejo.
Por fim o olhar daquela que quase sempre lhe turbava a transparência em inconstâncias, acidentalmente se distraia de suas propositais distrações enquanto a outra que vivia trancada no fundo oco de sua retina olhava pelo buraco da fechadura da porta que criara em seus olhos, olhos que ha anos trancava o seu brilho em um falho mistério, perfeito e proposital que ficava inútil com o brilho que lhe fugia sem nenhum controle agora. Suas bocas quase não pronunciavam, muito se escondiam, mas até os seus poros gritavam amor.
Em algum momento atônitas nos tantos detalhes daquela aurora boreal sentimental que preenchia o ambiente, elas se abraçavam e no tão confiável escuro de um cômodo muito cômodo, elas assistiam, o quanto se amavam...