Boneca de Pano. Num dia de frio de... André Saut

Boneca de Pano.

Num dia de frio de inverno a pequena Maria deitada em um fofinho acolchoado de penas de ganso, olhava sua irmã, alguns anos mais velha, costurando e dando vida ao sonho da pequena Maria de ter sua boneca de pano. Os retalhos da saia da mãe transformava-se em corpo e vestido, fios de lã feitos no tear pela avó, formavam os cabelinhos e a boneca tomando forma, tornando-se viva.

Depois do almoço feito no fogão a lenha e, de uma deliciosa compota de figo da tia, a irmã de Maria terminou a boneca de pano costurado dois pequenos e espertos botões pretos no rosto feito de pano branco, que passaram a ser os olhos da boneca e, com linha preta, desenhou um lindo sorriso de alegria, esperança e vida.

Um sorriso de boneca que iluminou a sala e se multiplicou na face de todos. Nasceu a boneca de pano.

Começaram chás imaginários com bolos de fubá de verdade e amigas de faz de conta.

Com sua nova irmã de pano, Maria brincava de inventar histórias até o sol se esconder e a luz da lua assumir a função de iluminar os sonhos.

A boneca nunca teve nome, porque era a única boneca que Maria conhecia, então não precisava de nome.

Passaram-se dias, passaram-se noites, passaram-se meses, passara-se anos e a boneca não cresceu, mas Maria sim.
Virou uma moça e foi estudar na Cidade, levou livros, levou sonhos mas deixou junto com a saudade, a boneca de pano.

Lá na cidade, cresceu mais um pouco, estudou bastante e quase esqueceu o campo.
Um dia a saudade apareceu e Maria voltou. No caminho foi recebida pela natureza com flores que a primavera colocou a beira da estrada.
E a cada quilometro, foi reencontrando lembranças como o cheiro da chuva na mata e o canto dos passarinhos.
Quando chegou na casinha ao lado da figueira, o tempo voltou em meio a abraços de mãe e irmã e a saudade da avó.

Depois do almoço enquanto apreciava a compota de figo da tia, olhando para o quarto, Maria enxergou num cantinho em cima do acolchoado de penas de ganso que tanto lhe aqueceu, a boneca de pano com os olhos de botão pretinho e o mesmo sorriso esperando para relembrar os chás de faz de conta e as brincadeiras de verdade. Foi então que a saudade ajudou Maria a dar um nome para sua amiga de pano: Chamou de felicidade.