As assembleias parlamentares representam... Gustave Le Bon
As assembleias parlamentares representam o melhor método que os povos ainda encontraram para se governarem e, sobretudo, para escaparem o melhor possível ao jugo das tiranias pessoais.
Aliás, não apresentam senão dois perigos sérios: o desperdício forçado de finanças e uma restrição progressiva das liberdades individuais. O primeiro destes perigos é a consequência inevitável das exigências e da imprevidência das multidões eleitorais. Se um membro de uma assembleia propuser qualquer medida que dê uma aparente satisfação às idéias democráticas, como, por exemplo, assegurar a reforma a todos os operários, aumentar o ordenado dos cantoneiros, dos professores, etc., todos os outros deputados, sugestionados pelo receio dos eleitores, não se atreverão a reprovar a proposta apresentada, temendo que a sua atitude seja tomada como desprezo pelos interesses desses eleitores.
Apesar de saberem que ela irá agravar pesadamente o orçamento e levará à criação de novos impostos, não podem ter hesitações na votação. Porque, enquanto as consequências do aumento das despesas são ainda longínquas e sem resultados graves, as consequências de um voto negativo poderiam manifestar-se logo que se apresentassem perante os eleitores. A esta primeira causa do exagero das despesas vem juntar-se uma outra não menos imperativa, que é a obrigação de autorizar todas as despesas de interesse meramente local. Nenhum deputado se lhes poderia opor, porque essas despesas representam, uma vez mais, as exigências dos eleitores, e um deputado só consegue obter o que pretende para a sua circunscrição se ceder a idênticos pedidos dos seus colegas.
O segundo perigo a que nos referimos, a restrição forçada das liberdades pelas assembleias parlamentares, embora aparentemente menos visível, é contudo bastante real. Resulta das numerosas leis sempre restritivas, cujas consequências os parlamentos, com o seu espírito simplista, não sabem ver e se julgam obrigados a votar.
Utilizando a tese no seu livro O Indivíduo Contra o Estado, Herbert Spencer escreve o seguinte acerca do parlamento inglês:
"Medidas ditatoriais, rapidamente multiplicadas, têm mostrado uma tendência contínua para restringir as liberdades individuais de duas maneiras: estabelecendo anualmente regulamentos cada vez mais numerosos, que impõem restrições ao cidadão em coisas em que os seus atos eram dantes completamente livres, e forçando-o a praticar atos que anteriormente tinha a liberdade de praticar ou não. Simultaneamente, os encargos públicos, cada vez mais pesados, principalmente os regionais, restringiram-lhe ainda mais a liberdade, diminuindo-lhe a parte dos lucros que pode gastar à vontade e aumentando a quantia que lhe é retirada para ser gasta conforme apraz aos agentes públicos.»