Dó. Chorava aos berros o bezerrinho... Raniere Gonçalves
Dó.
Chorava aos berros o bezerrinho preto.
De fome e da ausência da mãe.
Roubaram a Julieta, a vaquinha de meu afilhado,
lá na Cachoeira de cima.
Ela, mesmo parida, estava enxutona, boa de carnes.
É mesmo um despautério. O ladrão de gado amansou.
Já é a quinta cabeça que ele nos rouba em três meses.
E o safado é conhecido na vizinhança.
Está enriquecendo a custa do alheio.
Polícia? ... Na Comarca nem temos mais investigadores
e os militares não dão conta da cidade.
Fica a saudade do tempo da jagunçada.
O cabra ficava mês inteiro de tocaia
a espera do gatuno.
Dois ou três balotes: e o danado ia roubar
lá nas pastagens do inferno.
Aí a ladroagem parava.