Eu enjoei Enjoei dessas coisas que já... Fabi Braga
Eu enjoei
Enjoei dessas coisas que já não me fazem bem.
Enjoei dessas coisas que, agora percebo, são dispensáveis para a minha vida.
Como aquele que se põe a comer algum doce, o qual inicialmente lhe proporciona a mais saborosa impressão, mas que agora - pelo exagero do ato, talvez - apenas impulsiona o “degustador” a vomitá-lo, recusando-se o tal a sequer olhar para o pote.
Tenho medo de que isso possa me trazer alguma sensação parecida com a culpa lá adiante, sobretudo se – pelo esforço – eu vier a esquecer de tudo isso.
Será que sinto pena? Seria um remorso antecipado? Medo da perda?
Será que ouvirei queixas? Será que suportarei acusações ou incompreensões?
Eu não o sei, mas conheço Alguém que o sabe bem, O qual certamente compreenderá que estou a ponto de sequer suportar o cheiro exalado por esse doce, que tanto mal me veio causar.
Tudo porque a “indigestão” que a tal iguaria me trouxe foi absolutamente traumatizante e também paralisante.
Será que estou certa? Será que exagero? Será maldade de minha parte?
O doce permanece ali, mudo desde muito tempo...
Mas se ainda me demoro a pensar se eu deveria ou não sorver o restinho do que sobrou naquele pote, levada por mero receio de um eventual desperdício ou mesmo por dó, me dou conta de que ainda permanecerei, sabe Deus por quanto tempo, sob o efeito desta paralisia que castiga, aleija, corrói e quiçá, pode até ser letal.
Resolvo-me por abandonar o que restou de tudo aquilo.
Decido-me pela vida; por uma inteira vida.
Vai lá! Não vou lançar o pote ao lixo! Mas estou dando as costas para o que, agora, ficará para trás!
Sem mágoas, sem culpas, sem peso.
Ou isto, ou tornar ao que ainda poderá me provocar males ainda maiores.
Já me bastam todos estes cacos; já me bastam os lamentos.
É já a hora de se levantar em meio às cinzas e contemplar o brilho de um sol que anuncia coisas novas!
Vou em busca de uma nova vida, porque agora consigo enxergar que Aquele que a todas as coisas criou, ainda reserva - para o futuro - as melhores surpresas.
Esteja aí, doce! És doce e sempre o serás. Mas se tu não mudas, permitirei que a mudança ocorra em mim. E já o é!
(Fabi Braga, 12/06/2014)