Preferiu aportar junto ao cais da... Bia Antunes
Preferiu aportar junto ao cais da segurança. Apesar dos quereres, ainda que o instinto lhe mostrasse que não era aquela a sensação que preencheria a vazia passagem dos dias, optou pelo ócio da tranquilidade. Entre todas as chances que a vida havia lhe ofertado, escolheu ser ausência. Escolheu ser a falta do brilho no olhar, a dura rocha que se faz inabalável. Esqueceu-se, porém, que o espírito nem sempre obedece às vontades da carne. Sua alma contrária à consciência racional, fazia morada no silêncio da noite, e visitava o lar - no coração do outro - em segredo. Naquele momento, preferiu ancorar, mas não haveria mais tantas voltas nos ponteiros do relógio até que a ressaca lhe inundasse o convés do coração. Era navio de sentimentos submergido nas águas profundas da ilusão; abrigo de memórias vividas e vindouras, palco de histórias contadas com desapego à razão.