Dói tanto quanto o último beijo, tanto... Pietro Kallef
Dói tanto quanto o último beijo, tanto quanto a ligação que não atende, tanto quanto o perder, sem antes dizer o porque me faz sorrir, tanto quanto não encontrar meu doce predileto na geladeira, tanto quanto acordar sem rumo, tanto quanto a chuva termina no momento em que decidimos entrar nela, tanto quanto bater o carro quando se estava distraído, tanto quanto olhar para o lado e notar que não possuímos asas, tanto quanto não ter um poder sobrenatural de ler mentes e lábios. Dói hoje e amanhã também, pois, não o tenho nas noites de inverno com o cobertor sobre meu corpo e as mãos quentes sobre minha alma. Dói por saber que está do outro lado da cidade, mas é como se estivéssemos em países diferentes. Não está passando e isso só aumenta, dilacera e desconstrói os votos de uma vida eterna. A rotina é ensurdecedora e me faço de sombra para vê-lo sair do supermercado com os ombros leves e a consciência branda. Sigo porque é dever, mantenho a face límpida de lágrimas e vejo o vento me trazer novos ares e desejos. Aguardo tudo terminar aqui dentro, sem amargos e olhos caídos.