Independentemente da sua religião,... Paulo Lebiedziejewski
Independentemente da sua religião, pensemos em etiqueta social e sanidade mental.
Imagine se no seu aniversário, invés de lhe prestarem as formalidades, todos passassem a adorar freneticamente um gordinho vestido com gorro de pompom e pesadas roupas vermelhas justo nas férias de verão? De riso estranho (tal como Roberto Carlos) e com o hábito de estar sempre a invadir à surdina casas burguesas (só elas tem chaminé e árvores cortadas agonizantes) e a lidar noturnamente com meias sem par?
Isto pra não falar do sino badalando como o caminhão dos recicláveis.
Não bastasse, para lhe comemorar, sentariam às fartas mesas dos que têm, repletos de um inexplicável sentimento dito natalino e comeriam complusivamente pratos igualmente alheios ao clima e horário, sentindo vibrar no ar a ansiedade infantil dos pézinhos agitados sob as toalhas aguardando pular no meio dos embrulhos caprichosos.
Pensemos que o homenageado nasceu miserável, prensado entre pomposos fariseus e escalafobéticos romanos que marchavam de sandálias com estranhos chapéus metálicos.
E havia de escapar ainda de um rei das solteironas a decapitar sem dó os bebezinhos, só por precaução.
Não sei bem onde queria chegar com isto, mas vale o esquisito gosto que tenho de fazer parte da coisa toda. Até a ressaca do champagne sem culpa e a boca seca pela manhã fazem parte do ritual.