Todo amor é um exagero. Sempre foi. Mas... Carina Destempero
Todo amor é um exagero.
Sempre foi. Mas nesse mundo líquido, pós-moderno, metarromântico, ultra-fluido é ainda mais. Amar, hoje, é sinônimo de loucura muito mais do que se apaixonar. A paixão encaixa perfeitamente no modus operandi capitalista das gerações x y z´: você descobre um objeto novo, usa incessantemente, tira dele tudo que pode pro seu prazer e depois descarta, afinal sempre pode aparecer um modelo melhor, mais novo, ou mais compatível e é preciso estar aberto para as possibilidades. Mas amar? Tomar a decisão de ficar ao lado de alguém que muitas vezes não é quem você imaginava, construir, dia após dia, ano após ano, uma relação com a mesma pessoa, enquanto o mundo tá aí, cheio de gente diferente e possivelmente mais interessante?
Por isso todo amor é um exemplo de coragem.
Porque amar é ficar quando o mundo te diz que parar é perder. É acreditar quando o mundo te diz pra não confiar em ninguém. É dar, o que você tem e o que você não tem, sem ter a menor ideia do que vai receber. Amar é exagerar nos "Eu te amo" tentando expressar algo impossível de dizer. É dizer que, Eu sempre soube, Eu sabia desde a primeira vez que te vi, Nossos destinos foram traçados na maternidade ou antes mesmo, em outra vida, outro mundo. E o que é pior: sentir que todo esse exagero é verdade. Não importa se ninguém mais acredita, ou se dizem que todos falam a mesma coisa.
Porque amar é ser igual a todo mundo e único ao mesmo tempo.
E se todas as cartas de amor são ridículas, e são, se todos os amantes são idiotas, e são, cada carta é escrita com um significante particular, e cada idiotice é específica, o traço de loucura de cada um que só é causa de amor para um outro. E não é loucura do tipo, "Vou mendigar, roubar, matar", não é a loucura glamourosa da paixão. É uma loucura envergonhada, aquela que não revelamos pra ninguém, que negamos até a morte, mas que sabemos que nos constitui. Amar é dividir a falta, emprestar o desespero, sentir a dor do outro cortando a sua carne e ainda assim não desistir.
Amar é perder.
Perder o controle, o medo, a garantia triste da solidão. Amar é saber tudo isso que está escrito aqui, é entender muito mais do que está escrito aqui, é falar, argumentar, teorizar, explicar, discorrer, apresentar artigos, teses, filmes e poemas, e esquecer de tudo, absolutamente tudo, quando pela primeira vez escuta o outro dizer, Eu te amo.