Preservar o bem querer serviu de muralha... Mary Princess

Preservar o bem querer serviu de muralha amadeirada para o medo não se instalar e me confundir, medo esse que sempre senti, admirando em uma distância confortável para que nunca tivesse conhecimento do meu amor. Em vez disso, estive segura em uma posição de neutralidade que me custou mais do que eu poderia pagar.
O desejo foi o segredo que me colocou nessa situação de fogo amigo, brigando comigo mesma para barrar as lágrimas e revestir-me de uma indiferença que se existe é muito superficial e não lê o brilho que sempre esteve em meu olhar, traduzido de todas as maneiras nos mais doces gestos que desconversei porque não sou dada a lidar com desastrosas intromissões.
Seu lugar ser ao meu lado, mesmo quando léguas de distância nos separam tão descaradamente. Você ser o meu melhor amigo, eu a sua amada. Seu colo ser o meu refúgio, seus braços as imponentes e bem desenhadas asas brancas de um anjo, aquele olhar que foi curando as minhas feridas do passado e foi mais assertivo que o declamar de belos versos.
Não falar. Não por não poder nem querer, mas ser escrava das próprias palavras, fugindo de um eventual arrependimento, da vergonha que confronta diretamente a timidez, da retração que cobra com juros a falta de atitude. Tomar a contramão para fugir do fim, por não estar preparada para ver a vida modificando severamente todas as minhas certezas.
Vejo as horas correrem e a coragem insiste em não se apresentar. O orgulho festeja, irônico, satisfeito por manter-me sob o seu controle, sem distinguir ambiguidades e colaborar por um bom desfecho. Se a poeira abaixar, nem que seja a um ritmo vagaroso, espero te enxergar e deixar para trás o medo bobo de menina, pois a felicidade implica em riscos e se eu não corrê-los posso nunca mais ver a oportunidade repetir-se.
Quando estiver olhando em meus olhos, desvende a minha alma, tem muita coisa que eu não sei dizer com palavras. Meu olhar não mente, procura a candura do seu tom de avelã para ler as cartas não impressas, aquelas que escondemos dentre todas as responsabilidades programadas para nos afastar. Beije minha testa com ternura, abrace-me bem forte até que sejamos apenas nós dois no mundo, nós dois contra todo o resto; junte suas mãos com as minhas e prometa que enquanto tiver forças, jamais me deixará sozinha.