AUSÊNCIA Prismas diferentes dão... tadeumemoria

AUSÊNCIA

Prismas diferentes dão tonalidades diferentes às verdades da vida. Ás vezes sob o cajueiro centenário, que se espalha no fundo do quintal, fico a observar o firmamento; acho que é uma forma romântica de preencher ausências; é um ângulo que de certa forma me protege de mim mesmo. Cada estrela dessas é uma ausência e sob o cajueiro eu sou um prisma perdido que seus galhos camuflam, e a angústia de ser só é de alguma forma sacudida; e os meteoros que viajam cambiantes eu chamo de estrelas cadentes e faço um desejo. O cajueiro já me conhece, e conhece todos os meus desejos; conheceu a minha primeira namorada e seus gemidos; bem perto de sua raiz enterrei demônios: cajuzinhos em oferenda para o Deus das estrelas; acreditava que assim as namoradas voltavam; mas no meio da noite sempre tinha pesadelos com seus galhos me apertando; acordava de madrugada, corria pra janela e observava o cajueiro sacudido pelo vento litoral; parecia comemorar alguma coisa; talvez a minha ausência, até que de trás de seu tronco iam surgndo as namoradas, que leves como algodão, eram carregadas pelo vento ou arremessadas pelos seus galhos em direção a abóboda celeste. Cada estrela dessas é uma ausência, mas o cajueiro floresce com a neblina primaveril numa promessa fiel e infalível de frutificar e acolher agruras e angústias de qualquer ausência.