Nem repente, nem embolada Sem nada que... Paola Rhoden
Nem repente, nem embolada
Sem nada que fazer,
Me peguei a olhar o passado.
Com os olhos da mente aguçados
Vi imagens, momentos, lazer.
Vi também quem amei com esmero,
Me deixar no desespero,
Largando como se larga
Algum traste bem usado.
Disse que já estava velha
E que o mundo lá fora se espelha
Na beleza e no prazer.
Fiquei assim, um tanto abalada,
Porque olhando a meninada,
Na juventude e frescor,
Vi que ninguém mais interessa,
De conhecer o Amor.
Vivem o mundo como uma peça
De um teatro singular,
Sem nada muito pensar,
E onde o ser deixou de ser.
E vi também que a de vinte,
Que me substituiu,
Logo, enjoada partiu,
Deixando o vivente sozinho,
Carente por um carinho.
E aquele olhar que dizia:
Como você é feia,
Agora vive na peleia
Para achar outra guria.
Velho, pobre, feio e retro,
Vai ficar só pra vovô.
E verá que sem dinheiro
Nem amigos vão querer
Ser mais seu companheiro,
E vai viver por viver.
Porque o mundo castiga
Mesmo que faça oração,
Quem na vida abriga,
Maldade no coração.