EU INDIGENTE Eu, o resto sem eira nem... Cássio Jônatas

EU INDIGENTE Eu, o resto sem eira nem beira Quem cata os restos na feira Mais uma escória programada Mais uma história mal pichada Interpreto um papel maçado Re... Frase de Cássio Jônatas.

EU INDIGENTE

Eu, o resto sem eira nem beira
Quem cata os restos na feira
Mais uma escória programada
Mais uma história mal pichada

Interpreto um papel maçado
Reciclo o papel passado
Um papelão: é o que faço
No papelão: deito e me abraço

Vender bala: meu ganha-pão
Correr da bala: destinação
A indiferença: desperta minha dor
A sirene: meu despertador

A lua enche meu saco
Com seu olhar pálido
Nem a terra absorve
O meu chorar árido

O sol nasce, minha pele frita
E minha sombra assombra
Minha voz trava, meu silêncio grita
E meu grito tomba

Varrido pelo vento
Sou mais um excremento
Maltratado pelo tempo
Dormir é meu passa-tempo

Abrigado na solidão
Sou um eterno desvalido
Com o pensar comprimido
E o latido reprimido

Meu signo: cão de rua
Destino: viver no mundo da lua
Guerra: encarar esse mundo insensível
Sonho: tirar essa coleira invisível

Nome: Zé ninguém
Sobrenome: algum alguém
Sem identidade
Sem entidade
Sem idade.