Mas todas as vezes que eu ameacei cair... Brenda Santos

Mas todas as vezes que eu ameacei cair ela me segurou. Ela me segurou porque ela estava ali o tempo todo comigo.
Ela me entendia e sabia dos meus defeitos, mas ela preferia exaltar minhas qualidades sempre que falava de mim para os outros.
Não precisávamos de muito para nos entender. Riamos de qualquer coisa, de qualquer momento. Era algo espontâneo, tão natural quanto as palavras que saiam da nossa boca enquanto conversávamos.
Ela não parecia ser minha irmã. De maneira alguma. Eu era morena e ela loira, eu tinha uma personalidade e ela outra completamente diferente. Eu era café e ela leite. Mas a gente se misturava, e essa mistura dava tão certo.
Criamos laços que talvez irmãos não consigam construir. Não era amizade. Era companheirismo, parceria. Eram todos os adjetivos possíveis que se pode dar a um afeto.
Mas um dia ela ameaçou cair, e pela primeira vez eu percebi o quão importante eu também era para ela.
Eu poderia salva-la do abismo, mas eu preferi preveni-la dele.
Porque talvez amizade seja isso. Prevenção.
Prevenir que o caia, que o outro sofra, que o outro desmorone, que o outro se abata.
E se mesmo prevenindo não conseguir, é estar lá para aparar os danos. Os danos que a vida causa. Ser o curativo das feridas da vida, mesmo que ainda assim elas deixem marcas.