Tens um olhar lindo enquanto dança,... Lucas Carneiro de Oliveira

Tens um olhar lindo enquanto dança,
Não pude deixar de notar
Teus olhos funcionavam como meu eixo
Por mais que tudo girasse,
se desencontrasse e se perdesse,
meus olhos não queriam perder os teus.
Não podiam.
Não deviam.

Sempre atenta, concentrada em mim.
Totalmente tomada,
Não para com os meus hábitos à mesa
Na hora do almoço,
pro carro que dirijo
Ou pro modo como me visto.
Somente pro meu corpo
Pra onde a conduzo,
Pro modo como te desejo

Era como se o mundo
virasse do avesso,
e o palco não fosse mais perante a plateia,
mas sim, atrás das cortinas.
Num lugar só nosso
onde não há uma só crítica,
atenta aos nossos deslizes e gracejos,
um lugar onde exista apenas dois corpos,
suados, envoltos, encaixados
Pulsando, juntos
Sem nenhum repulsa
Sem qualquer pudor

A música termina,
e como um sol se pondo,
as cortinas se erguem
e nos devolvem à realidade.
Beijo seu rosto,
me despeço
e sigo para o outro canto do salão.
Paro por um segundo
para tentar lembrar seu nome,
e tentar me lembrar do aroma
tão adocicado do seu pescoço

Dança, não é só passo.
Talvez seja um universo
que nos devolva tudo aquilo que,
pela vida, nos foi tirado
É caso de amor com o seu outro lado
É aquele braço tão disposto,
firme,
Em que você tantas vezes
quis se deixar levar

É a possibilidade
de se apaixonar
cada vez que a música começa

E, se ela dura tão pouco,
É preciso que seja intenso
É preciso que seja pra sempre,
Até que a música acabe

Mas não há tempo para considerações
nem devaneios
A música vai começar de novo

E eu,
preciso me apaixonar novamente.