Impaciência Eu queria dormir... José Guimarães Rosa
Impaciência
Eu queria dormir
longamente…
(um sono só…)
Para esperar assim
o divino momento que eu pressinto,
em que hás de ser minha…
Mas…
e se essa hora
não devesse chegar nunca?…
Se o tempo,
como as outras cousas todas,
te separa de mim?!…
Então…
ah!, então eu gostaria
que o meu sono,
friíssimo e sem sonhos
(um sono só…)
não tivesse mais fim…
Se eu pudesse correr pelo tempo afora,
vertiginosamente,
futuro adiante,
saltando tantas horas tediosas,
vazias de ti,
e voar assim até o momento de todos os momentos,
em que hás de ser minha!…
Mas…
e se esse minuto faltar
nas areias de todas as ampulhetas?…
E se tudo fosse inútil:
a máquina de Wells,
as botas de sete léguas do Gigante?!…
Então…
ah!, então eu gostaria
de desviver para trás, dia por dia,
para parar só naquele instante,
e ele ficar, eternamente, prisioneiro…
(Tu sabes, aquele instante em que sorrias
e me fizeste chorar…)”