Quanto vale uma curtida no Facebook? A... HUGO PIRES
Quanto vale uma curtida no Facebook?
A pergunta é desafiadora, de tal modo que vale a pena tecer algumas palavras sobre o tema, não com o fito de obter muitas curtidas, mas, na busca de tentar decifrar o significado e a valoração de uma "curtida".
Verdade seja dita, a grande maioria dos "facebookeiros", senão todos, buscam diuturnamente uma curtida em seu perfil, seja de um texto, de um post engraçado, de um prato de comida, de uma foto em frente ao espelho... Ah! As fotos em frente ao espelho...
Narciso sente inveja quando lembra que se apaixonou por sua imagem refletida nas águas do Estige, e não teve um celular com câmera e um espelho cristal três milímetros para tirar fotinhos quinze vezes por dia, postar na rede e ter muitas curtidas por isso. Mas Narciso teve sorte, o Facebook o teria consumido muito antes que o reflexo das águas.
Hoje, o reflexo das águas na rede revela que as curtidas representam uma espécie de afago emocional, algo como "você é foda", no entanto, ser foda no Facebook é como ser rico no Banco Imobiliário, e o leitor esperto já sacou o silogismo proposto.
O pior de tudo é que há textos fantásticos na internet, fotos de acontecimentos históricos que jamais vimos por aquele prisma, fatos que transmudam a nossa forma de encarar o mundo, frases que embalam mesmo os que sofrem do "mal de Barrichello" (aquele que chega sempre atrasado), há até piadas engraçadas que nem o Ary Toledo nunca contou, e recebem em troca uma, duas, dez ou quinze curtidas. Daí vem clichês com erros de português (cento e cinquenta curtidas), indiretas para o mundo (cento e sessenta curtidas), pratos de comida (cento e sessenta e oito curtidas), fotos de melancia a cerveja (cento e setenta curtidas), e, claro, as fotinhos em frente ao espelho (quatrocentas e tantas curtidas). É, existem coisas que o bom senso não compra, ou melhor, não curte.
Aí eu te pergunto, à moda " marcelo-rezendiana": se eu vejo uma futilidade, seja qual for, com erros crassos de português, com um vazio que ecoa pela tela do computador, e, ainda assim, eu curto, não estou compactuando com uma ideia vazia e ajudando a propagar uma sociedade estapafúrdia que valoriza o fútil e cava o seu próprio fim?
Eu sei que você pode estar pensando que eu sou moralista, antiquado e xarope, mas o Facebook se revela pra mim como a Ágora que Sócrates não pisou, não como o lago que Narciso não viu.
Por isso, se me perguntarem quanto vale uma curtida no Facebook, eu direi de pronto: vale aquilo que você vale.