Uma história não tão fictícia. Ela... Laís Heidemann
Uma história não tão fictícia.
Ela tinha lábios rosados, um pescoço lindo, uma respiração um tanto quanto ofegante, e um péssimo paladar, mas parecia degustar bem dos meus beijos com gosto de morango e clichê. Quisera eu refletir no par de esmeraldas que havia em seu rosto, porém tenho olhos escuros e nunca soube impô-los a ela. Eu provavelmente a abraçaria de tal forma que quase a faria parar de respirar, se não fosse o fato de que ela não pretende morrer de amor, e então eu me contentaria com um abraço fraco, como se o nó que nos juntava fosse um laço simples de desatar. Sempre houve algum motivo para tirar nossos sorrisos do rosto, só que o termo de ir do inferno ao paraíso era sair do carro e encontra-la com cabelos arrumados e um olhar confuso. Houvera noites regadas a whisky, outras de tequila, e eu sempre tive o incomum desejo de beber sua dor como vinho. Eu podia ouvir seu coração batendo alto demais para quem tinha uma expressão serena no rosto, que, embora fosse imperturbada, nunca soube ocultar seus pensamentos aflitos. Havia algo pitoresco no meio de tantos sorrisos comuns e olhares lançados numa tentativa falha de me fazer mudar de ideia e ir embora, como se ela não estivesse me esperando de pernas cruzadas. Por várias vezes me desculpei de que nunca fui um tipo de homem que merece toques ou sussurros de mulheres como ela. Eu pensava em fechar os olhos nesses momentos em que ela abria seus belos lábios e não ousava falar algo, talvez tentar ler algum tipo de pensamento que entregasse o que ela não tinha coragem de dizer, mas nunca obedeci aos meus pensamentos, pois eu me encantava ao vê-la, e piscar era coisa de apenas os que não veem coisas bonitas faziam. Eu a olharia por milhares de anos se isso não a deixasse vermelha. Mas ela era envergonhada. E era dramática, impetuosa, e tentava esconder seus sentimentos nos momentos errados. Suas veias transcendiam em sua pele quando o assunto éramos nós, eu nunca soube o porquê. Talvez fosse aquela insana vontade de ser ela quem comanda a própria vida, e não um destino que nunca soube colaborar com o tempo que ela precisava para superar angústias ainda presentes em seus sonhos. Ela possuía cicatrizes que eu não podia tocar, e eu compreendia isso, exceto o fato de que eles sangravam esporadicamente. Ah, querida, o que te fez perder o sorriso na madrugada? Eu nunca soube entendê-la bem, foi esse motivo pelo qual ela me mandou embora. Agora me encontro na frente de sua casa perguntando a mim mesmo o que eu fiz de errado, sabendo que o errado foi o que eu não fiz. Ela era a covarde, mas fui eu que não me arrisquei.
Éramos realmente um laço. E desatamos.
Desculpa por não saber dizer adeus direito, J. Eu apenas não aguentava mais..