A melhor herança familiar Os pais... Dom Orlando Brandes
A melhor herança familiar
Os pais gostam de deixar alguma herança para seus filhos. Geralmente a herança é financeira. Temos porém outras, muito preciosas que enriquecem as pessoas no seu humanismo, herança de valores. Vejamos algumas heranças humanitárias que enriquecem o ser:
1. O sentimento de amor pela vida dos seres humanos. Vivemos para ajudar outros a viver. O respeito pela vida e dignidade da pessoa humana é a melhor herança que podemos deixar. Sentir satisfação pelo bem dos outros é a suprema emoção. O propósito de não prejudicar e fazer aos outros o que queremos que nos façam, é amor pela vida do outro. Tais sentimentos nos enchem de simpatia e consideração pelo próximo e nos cumulam de paz interior. Atos de altruísmo, de voluntariado e de gratuidade são valores de alto quilate. Quem se preocupa menos consigo, sofre menos. É a herança do amor fraterno.
2. A consciência de viver o que foi ensinado. Praticar os mandamentos, interiorizar e viver os princípios éticos, dar testemunho de vida é uma herança inestimável. Que possam dizer de nós: era uma pessoa que fazia o que dizia, passou fazendo o bem. Uma vida pautada pela coerência e transparência é cativante e irradiante. O mundo aprecia mais as testemunhas que os mestres. Os gestos falam mais que palavras. Em nossos filhos fica marcado o jeito de viver de seus pais. Eis a herança do bom exemplo.
3. Não repetir os erros cometidos. Aprender com os erros, não repeti-los, não justificá-los, não mistificá-los, é uma sabedoria que nos faz amadurecer. Crer que podemos ser melhores e ir além de nossos limites, é manifestar a esperança que nos habita. Enfim isso tudo significa humildade. Nossos erros podem ser nossa escola, nosso pedagogo, nossa chance de melhorar e de mudar. A coragem de assumir os erros e corrigir-nos nos eleva e dignifica. É a herança da sabedoria.
4. A capacidade de escolher novos rumos. É belo saber recomeçar, não desistir, procurar soluções, corrigir rotas. Para quem não tem rumo todos os caminhos são errados. Ter ideais, metas e objetivos é ser pessoa motivada. Os motivados fazem mais que os inteligentes. Refazer e reorganizar a vida, os rumos, os horizontes é próprio de quem tem razões para viver, e sabe dar sentido e significado para a vida. Vencemos os sentimentos de inutilidade, de vazio existencial, de conformismo e nos equipamos com a “vontade de sentido”, transformando tragédias em triunfos, espadas em arados, lixo em luxo. É a herança da esperança e do otimismo.
5. Ter interioridade. Significa ter bondade de coração, retidão de consciência, escala de valores, capacidade de renuncia, apreciação pelo bem estar dos outros. Sucesso é passar de fracasso em fracasso sem perder o entusiasmo, isso também é interioridade. Silêncio, meditação, opção de vida, oração e ação, manifestam a interioridade das pessoas. São capazes de passar por injurias e humilhações sem perder a serenidade. Encontram sentido para o sofrimento. Quanto mais trituradas mais doçura emitem. É a herança dos valores.
6. O respeito pelo indispensável: pão, saúde, trabalho. Eis o zelo pela justiça, pelas condições básicas de vida, pela dignidade humana, são os pilares da paz. Lutar pelo bem comum, pela solidariedade onde justiça e liberdade, verdade e amor se abraçam, é crer na construção da sociedade justa e fraterna. Altruísmo, voluntariado e gratuidade são as melhores heranças que os pais deixam para seus filhos e para a nova sociedade.
Dom Orlando Brandes – Arcebispo de Londrina