Você é como o vento. Corrente de ar... Mark Mendonça
Você é como o vento.
Corrente de ar
que prende meu corpo
sob seu domínio
e me faz seguir a vida
perante suas condições,
perante a mínima liberdade
que meu sentimento
por você me concede,
quase que com pena
de minha existência
ser toda concentrada
em fazer você fluir.
Continuo dizendo
que você é como o vento,
pois nos dias frios,
você me traz a frieza.
Congela meus membros
com a indiferença
e me traz arrepios
todas as vezes que
toca meu corpo.
Meus cobertores
são inúteis,
pois já não seguram
a sua força
quando você me abate
parecendo um simples
animal de caça.
Vem sem piedade,
sem pensar em mim,
não importa
se eu estou preparado.
Tanto faz,
com camiseta,
casaco,
apaixonado,
racional...
Você explode
forte em minha pele
e seu impacto
quase me congela.
É como o vento, também,
nos dias quentes,
e me parece que nesses,
você é a melhor.
Além de aliviar
meu corpo
e derramar meu suor,
você vem abafada,
e quente como o dia,
me envolvendo
em carícias arrepiantes
dos pés à cabeça,
e eu,
desejando cada vez mais
de você a minha volta,
não me importo
se sua direção
me guia ao precipício.
O que importa
é que você
me alivia nesses dias,
e faz os dias frios
serem suportáveis
por esse motivo:
pela esperança
de um dia de calor.
Como o vento
você se assemelha
no que diz respeito
aos dias úmidos.
Tristes são esses dias,
pois antes da chuva,
você traz aquele pressentimento,
o cheiro de terra molhada
que profecia as lágrimas
que rolam por meus olhos
como nuvens condensadas.
Inundo as ruas
da minha alma
a ponto de não conseguir
nadar por elas,
e deixo me levar
pelo rio de lágrimas
que você me trás,
mas que sou eu que faço,
quero ser levado.
Eu que faço, sim,
pois você não tem culpa
de ser o vento
em minha vida,
e eu que deveria
criar barragens
para não sentir
seu contato em mim,
porém a própria esperança
e o forte desejo
dos dias quentes
não me deixa querer
parar de te sentir.
E por último, você,
como todo bom vento
é formado de ar.
E ar é tudo
o que respiro
e que toma conta
dos meus pulmões.
Sem respirar,
eu morro.
Sem você,
minha essência se perde,
e tenho de criar outra,
de preferência uma
que o vento da minha vida
seja eu mesmo.