Ele disse: - Acordada até agora? - Sim,... Helena Mantovani

Ele disse:

- Acordada até agora?

- Sim, estou. Afinal, é sábado. - Respondi com um sorriso no rosto por poder finalmente finalizar meu dia, depois daquelas palavras.

- Saiu hoje? Estás fazendo o que? Indagou-o, novamente.

- Não saí, mas estou sendo um pouco patética, ridícula, sonhadora, feliz e ao mesmo tempo triste. Estava pensando em você. Pensando nas histórias que nunca vivemos, nos sorrisos que nunca sorrimos juntos, nos olhares que falam por mil palavras que nunca trocamos, nos sussurros ao pé do ouvido que nunca aconteceram. Estava pensando no nunca, e doeu.

Foram alguns momentos de silêncio, porém eu não gostava do silêncio dele. Era como se estivesse me falando coisas que não gostaria de ouvir.

- Não posso te falar nada. Só depois de fevereiro... – Disse de uma maneira que não sabia ao certo se deveria ter dito. Pois ele sabia que se tratando de mim, eu cobraria a promessa.

Queria que ele falasse alguma coisa, mas não queria ao mesmo tempo. Pois foi esse jeitão dele que me fisgou, e me deu um novo sonho, um novo motivo para sorrir, um novo desejo.

- Os outros desapareceram. Aqueles que possivelmente chamariam a minha atenção antigamente, não passam de mais um. Inclusive tenho nojo. Você me mostrou que o homem que eu sempre quis, imperfeito da maneira certa, existe. Parece fácil aguentar tudo isso, mas não é. Sinto-me uma idiota. Olha onde já se viu escrever sobre sentimentos pra alguém não pode corresponder, e muito menos responder? - Falei não me importando se ele me acharia uma louca. Pois eu estava totalmente em sã coincidência. E continuei, sem parar para respirar...

- Mas não importa... Só de pensar em você, minha vida já vale a pena. Ativar o foda-se, seria a melhor opção. Mas e se eu ativar o foda-me? - O vinho nem estava aberto ainda, mas se dependesse de mim já estaria abraçada nele.

- Para! Eu não posso. Helena, tu tens que entender que não podes fazer tudo que tu queres. Tu achas que sabes onde é o limite do outro, mas não é tão simples encontrar-lo. Não faça bobagem, te controle! Eu não posso ser pra ti, o que tu queres que eu seja. Vivemos em mundos diferentes, amores diferentes, ideais diferentes, somos totalmente diferentes. Por que eu? Tantos caras da tua idade, do teu mundo... Por que eu, droga?

Por que ele, porra? Eu que me perguntava. Não fui eu que escolhi, juro que não foi. Algo mais forte que eu, me faz ficar a noite inteira esperando ele aparecer até bater o desânimo e pensar: Pô, cadê você?!. Algo mais forte me faz chegar trinta e cinto minutos antes da minha aula começar só pra ver ele de longe. E daí, que acordo ás três da manhã pensando nele, sendo que tenho que levantar às seis horas? Não é minha culpa. Como diria a Sandy, grande filósofa moderna: Como cortar pela raiz, se já deu flor?

- Porque sempre foi você. Foi você desde quando me apaixonei pelo seu sorriso. Foi você desde quando comecei escutar suas músicas, como Carbernet, Manuel Moreira... Foi você desde quando comecei observar suas camisas. Foi você desde quando ouvi sua voz. Foi você desde quando me apaixonei pelo seu jeito de escrever. Foi você desde quando vi o quão inteligente e bem humorada uma pessoa pode ser. Foi você, é você, e sempre será. Entende?

- Entendo. Preciso sair agora. Boa noite e beijo.

Droga, eu não deveria ter dito nada daquilo. Estraguei mais uma vez tudo. Aliás, estraguei algo que nem existe ainda.

Ainda bem que não passava de mais um diálogo matinal, que nunca aconteceu.