Ser atleta... Ser atleta é como paixão... Paulo André
Ser atleta...
Ser atleta é como paixão de adolescente.
Uma vontade incontrolável e avassaladora de querer estar junto, grudado, como se fosse possível viver num só corpo. Nada mais importa, só aquilo nos alegra e nos dá vida! Sonhar acordado, sentir os pés decolarem do chão, voar e fazer acrobacias, sem medo de errar, sem medo de cair. Sentir prazer com a saudade e com a dor, e ainda esperar ansioso que outro dia comece para que sintamos tudo novamente. Quando se sente isso pela primeira vez, parece que a eternidade está logo ali, é palpável.
Eis que surgem os primeiros beijos, as primeiras vitórias, potencializando ainda mais essa paixão. Mas como nada é perfeito, surgem também as primeiras brigas, assim como as primeiras derrotas, machucando a alma, tornando tudo escuro, dando a sensação de que agora é esse sentimento que será eterno e que outro amor ou outra oportunidade de vitória jamais voltarão a aparecer.
A técnica do esporte se aprende com exaustiva repetição, da mesma forma que a vivência diária entre dois amantes, que ao longo do tempo se tornam parceiros e se conhecem num olhar, num gesto ou até mesmo no silêncio. Os gênios do esporte também têm essa relação com a bola, com a raquete e com as pistas, é amor.
A força mental do jogo se desenvolve nas vitórias e nas derrotas, como se as idas e vindas do amor, as brigas e os acertos, tivessem o poder de expandir um novo horizonte em nossas mentes, nos fazendo amadurecer e enxergar que quanto mais aprendemos, mais distantes ficamos do ponto que julgávamos ser ideal.
Para o atleta, o físico (corpo) é o instrumento de trabalho, a coisa mais preciosa da sua vida, e precisa, assim como o ser amado, de cuidados diários como carinho, atenção, alimento e paciência, pois reconhece que é ali, naquela pessoa (corpo), que estão depositadas suas esperanças de felicidade (mesmo que digam que não se deve ser assim, poucos conseguiram evitar esse sentimento). Sem ela, não haveria ar, não haveria pernas para caminhar ou forças pra sobreviver.
Tanto no amor quanto no esporte, as desilusões são inevitáveis, os prazeres também. Para ambos, existem riscos, dos mais diversos. A profundidade que alcançaremos em qualquer um deles está diretamente relacionada ao tamanho dos riscos que estamos dispostos a correr.
Não há ninguém nesse mundo que jamais se deparou com as difíceis dúvidas: devo tirá-la para uma dança? Será que ligo pra ela agora? É a hora de beijá-la? Chuto ou passo? Direita ou esquerda? Exploro o bloqueio ou desço a mão na bola?
Na verdade, não se pode pensar muito, os concorrentes estão soltos pelo salão, assim como pelos gramados e pelas quadras. Deve-se agir, instinto, desejo e paixão, andando lado a lado com o medo, com a vergonha e a decepção. As chances de dar certo são grandes se você está preparado e disposto a entrar nesse caldeirão.