Chamavam-lhe de estranha. Julgavam sua... Bia Antunes
Chamavam-lhe de estranha. Julgavam sua personalidade forte. Davam-lhe apelidos e faziam piadinhas e trocadilhos irônicos quando passava. Era apontada como ácida, amarga e azeda. Não eram capazes de compreender sua loucura por histórias gravadas em pilhas de papel. Não queriam aceitar seus predicados incompatíveis habitando um só corpo. A maioria lhe lançava olhares tortos. E sorrisos amarelos. Mas ela vivia bem, apesar de tudo. Compreendia a diferença dos vários estágios evolutivos deste mundo, e de alguns outros, e não julgava de volta. Não rotulava também. Não diretamente. Ela expressava o que pensava a respeito deles nos personagens que criava, e no desfecho de cada um. Ela era assim, feito um livro. Desses que são julgados pela capa. Um livro restrito apenas àqueles que eram capazes de desvendar seus capítulos, e descobrir seu íntimo mais doce.