Eu vi a cor do amanhã nos olhos daquele... Elisa Bartlett
Eu vi a cor do amanhã nos olhos daquele rapaz e depois daquele dia eu pude jurar sorrindo que nada mais seria como antes. A noite longa se despediu e sobre a densa neblina dos olhos dele eu vi as estrelas levando todas as velhas marcas de expressão. E como eu poderia neste acaso danificado estar frente à tudo aquilo? Naqueles olhos itinerantes diluíam a minha rotina, minha cadência desconexa cantarolava a marginália enfurecida de Gilberto Gil. Aquele rapaz aparentemente comum de calça e jaqueta jeans, pacote de cigarros nos bolsos, óculos e semblante compenetrado tinha na palma das suas mãos o traço reto e definido da rota da mais bela viagem de toda a minha vida, a liberdade. Dois rios inversos que se guardavam para um destino certo. Dois pares soltos de olhos vistos, enebriados, imbuídos no primitivismo inocente do amor reciproco, inesperado e completamente revolto. Adeus horas impiedosas de embriagues anonima! Será que é isso que chamam de amor a primeira vista? Não, eu não seria capaz, não depois de tudo. Mas posso lhe garantir, que por alguns instantes, olhando os olhos daquele rapaz, eu soube a razão de estar viva, de ter fome de viver e ser livre, de permanecer e acreditar que de alguma forma que nada, absolutamente nada mais seria em vão. Eu amanheci nos olhos daquele rapaz.