DIREITO Sempre acreditei demasiado na... HUGO PIRES

DIREITO

Sempre acreditei demasiado na força das palavras. Sempre acreditei que os nossos pensamentos nos levam aonde quer que queiramos, e que basta ter perseverança para alcançarmos os nossos sonhos, pois o único direito que não nos foi dado é a desistência.

Foi com esses ideais que comecei a escrever esse texto, vez que tenho visto por aí inúmeras chacotas envolvendo estudantes e profissionais do Direito, algo como "por que se chama Direito se está dando tudo errado?" ou "Aí você se forma, não é mais estagiário e ainda não passou na OAB, o que você é?", "Por que eu fui estudar Direito!?", entre outras tantas que me fariam ficar nesse parágrafo até o fim da Faculdade.

Amigo leitor, não quero ser falso moralista, tampouco tenho pretensão de convencê-lo acerca dos meus erros ou acertos, de modo que às vezes também rio dessas frases, às vezes até as compartilho em tom de gozação, mas eis que descubro a trama ardilosa do desânimo que isso pode causar lá dentro dos ideais, pois se é certo que as palavras têm poder, não ganhamos nada em desmerecer a nossa escolha, ainda que por mera brincadeira.

Lembro-me dos primeiros passos que dei na jornada do Direito, a primeira vez que li o art. 5º da Constituição, que, com a ajuda do professor, fez surgir interpretações que não estavam estampadas no texto, mas guardadas para aqueles que se debruçavam sobre elas. E tantos sonhos que nutria, e ainda nutro, de ser um grande jurista para poder ajudar quem precisa e fazer a diferença.

Sim, pode soar piegas a última frase do parágrafo acima, mas é esse o meu mapa do maroto: "poder ajudar quem precisa". E é justamente essa meta que a gente vai perdendo no decorrer dos anos, é justamente essa utopia que vai se desfazendo no horizonte enquanto ficamos presos a encarar somente o lado negativo dos desafios. Vamos nos tornando individualistas demais, pessimistas demais.

Sempre comento com meus amigos, pelos corredores da Faculdade de Direito, que a nossa escolha não é para qualquer um. É preciso ter gana por vitória para vencer o curso e não apenas cumprir a hora, é preciso ter sonhos para superar a longa caminhada que se apresenta e, sobretudo, acreditar que é possível ser melhor, não melhor que os outros, mas melhor que nós mesmos.

Não podemos deixar essa chama apagar dentro da gente, de verdade, se é Juiz que queremos ser, corramos atrás desse sonho, essa é a hora! Se é Promotor, Desembargador, Ministro, Advogado, Professor, seja lá qual for o sonho que você, leitor, nutre, não o deixe se perder em frases desanimadoras sobre a carreira, porque ao final quem se perde somos nós mesmos, e então seremos apenas mais um...

E quanto às respostas para as perguntas do começo do texto ("por que se chama Direito se está dando tudo errado?" ou "Aí você se forma, não é mais estagiário e ainda não passou na OAB, o que você é?", "Por que eu fui estudar Direito!?"), ninguém melhor que você para encontrá-las.

E na mesma toada de Tércio Sampaio, despeço-me desse texto para ir às aulas de sexta-feira à noite na Faculdade de Direito: “o encontro com o direito é diversificado, às vezes conflitivo e incoerente, às vezes linear e consequente. Estudar direito é, assim, uma atividade difícil, que exige não só acuidade, inteligência, preparo, mas também encantamento, intuição, espontaneidade. Para compreendê-lo, é preciso, pois, saber e amar. Só o homem que sabe pode ter-lhe domínio. Mas só quem ama é capaz de dominá-lo, rendendo-se a ele.”