Chorei depois de meses, pela primeira... Helena Mantovani

Chorei depois de meses, pela primeira vez. Chorei de tristeza por não poder abraçar-lo.

Fiz hidratação no cabelo ás cinco horas da manhã, arrumei a sobrancelha, coloquei unhas postiças vermelhas, separei a calça jeans que valorizava minhas curvas e a regata preta que favoreciam meus peitos. Fiz uma maquiagem leve, coloquei meu perfume favorito e esperei a hora que pudesse ver-lo.

Reza a lenda que ninguém vai a uma delegacia para dar um abraço em alguém, mas porra, eu iria.

No entanto, surgiu um caso e meu dia perfeito foi arrastado junto com os policiais para o lugar onde haveria uma investigação da perícia. Fiquei em casa roendo as unhas. Quis que ele me ensinasse como era a vida dentro de uma DP; poderia ter pegado leve. Quando eu for como o tal, já sei que não poderei marcar compromissos com cem por cento de garantia. Já é um belo aprendizado.

Recebi o telefonema anunciando o fato e um “combinamos para semana que vem”. Droga, minhas unhas, minha hidratação, ainda bem que meu bom humor e a minha dita inteligência não eram fakes, nem com prazo de validade.
Arranquei tudo de mim. Unhas, roupas, sapatos, brincos e por pouco, o coração. E me atirei na cama. Chorei pensando o quão perfeito ele era mim, e como eu precisava daquele abraço. Ou uma mensagem qualquer, naquele, e em todos os momentos. Bem aqueles pensamentinhos de menina apaixonada. Estava disposta a ler até um “Vai te catar” quando falei que tinha curtido a camisa rosa salmão dele, mas não leva o caso... Aliás, nem me fale em caso.

Chorei escutando músicas românticas em espanhol, criei monólogos ( chorando) em frente ao espelho que dispenso falar pessoalmente a ele. Pois irá fugir, ou me internar. Chorei fazendo simulações de foras e de despedidas. E refletindo agora, ás três e oito da manhã, sem dúvidas estou de TPM. Afinal, eu não choro.
Semana que vem quando estiver saindo de casa, aposto que vai acontecer um tsunami na minha cidade ( não tem mar), ou um vulcão em erupção ( não tem vulcão), ou um ataque de guerra do Irã ( não, não estamos em guerra).
No entanto, tudo que sei, é que preciso de unhas postiças novas e sorte. E quem sabe, um beijo dele. Opps.