Doce Maria, abri o meu caderninho numa... Rafaella Kristinne

Doce Maria,
abri o meu caderninho numa página qualquer. A lapiseira treme. Grafite zero-cinco, porque as outras fazem a letra ficar gorda e não cabe tudo na página do meu moleskine que é tão pequenininho. É assim, pequena, miudamente, é assim que eu vou falar de você. Ma-ri-a.

Você tem um sorriso bonito e uns olhos castanhos que são tão diferentes dos meus! Como pode algo, assim ser da mesma cor, do mesmo formato, mas ser completamente diferente? Maria, quero lhe fazer um piquenique. E deitar em você. E deixar você me puxar para dentro, absorvendo-me como se eu fosse alguma droga que você nunca tinha experimentado. Comendo pão com geléia. Comendo doce de leite! Comendo brigadeiro e te sujando de nescau. É, nescau, porque não é a-cho-co-la-ta-do. Depois eu te daria remédio por causa da tua alergia. Mas vê, se fosse com uma outra qualquer, seria achocolatado, mas é com você, minha doce doçura, então é nescau.

Tenho essa mania de te chamar das minhas comidas favoritas porque de algum modo eu quero que você entre pela minha laringe e que eu te devore... Quero digerir carinhosamente você, te mergulhar em ácido clorídrico e desfazer com minha bile todo esse medo que você tem da vida. Afogar-te em suco de manga porque minha sede de aventura nunca passa e eu estou sempre bebendo coisas gostosas. Ou ainda te lambuzar de chocolate. Mas só se eu puder te limpar depois, com uns beijos molhados, que podem ser babados (espero que você não tenha nojo de mim).

Ah, Maria. Eu quero te passar no pão e te guardar uma jóia. Exibir você no pescoço, como uma gargantilha, ou ainda como um colar para ficar mais perto dos pulmões. E respirar você... E sentar do seu lado no carro, enquanto você está dirigindo, e te escrever um poema que não é metrificado e nem muito bonito, mas que é seu.

E essa prosinha, essa também é sua, embora meio melada de açúcar...