Dizem que “pai é quem faz”. Mas o... Vlader Nobre
Dizem que “pai é quem faz”. Mas o que me torna pai não é o que eu fiz, mas o que fizeram comigo. Assim, o filho feito faz o pai. Dizem que “pai é quem cria”, mas a criação é fruto da invenção, e, quando me tornei pai, eu também nasci outro em mim, eu também me senti criado, cuidado, acalentado. Quantas vezes, fui colocar minhas filhas para dormir, e adormeci primeiro. Quantas vezes, impaciente, ouvi da mais velha: “tem que ter paciência, painho, lembra?”. Como esquecer que o que nós ensinamos nossos filhos aprendem, e, quando nos perdemos em nossas atitudes, são eles que nos ensinam. A mais nova pouco fala, mas também nem precisa: diz do seu jeito em um idioma alienígena para um adulto, que, se traduzido, seriam (e são) poemas belíssimos. Vejo em livrarias uma série de manuais como bússolas orientadoras para os pais e mães. Onde já se viu? Só minhas filhas são como são. E só eu sou como sou com elas, para elas, por elas, a elas, delas. Está na hora de aprendermos mais com os filhos. Sabemos muito, mas muito disso que sabemos é inútil. Não quero saber se a população mundial cresce em progressão geométrica e a produção de alimento cresce em progressão aritmética. Quero poder saber explicar a minhas filhas por que crianças bem semelhantes a elas (em idade e sonhos) não têm nada para comer, nem ninguém a quem abraçar. Deixemos nossos filhos se rebelarem nas manifestações populares. Isso quer dizer que nascemos corajosos, mas nos acovardamos, ao longo do tempo, por uma inércia burocrática do existir adulto. Dizem por aí que os “filhos são o futuro da nação”. Não, eles são o presente em sua anterioridade temporal necessária, pois o porvir depende do agora, “o futuro começa agora”. Minhas filhas, aqui pelo facebook, o painho de vocês grita ao mundo que minha vida tornou-se outra após cada nascimento. Embora enquanto vocês dormem, a ordem volte a reinar e eu passe a me dedicar à leitura, em nenhum livro encontrei a alegria e o amor que vem de vocês. É preciso acreditar que as fadas nascem de um sorriso de uma criança. Prefiro acreditar nessa fantasia a aceitar as atrocidades do mundo real. Quando assisti ao filme “A vida é bela”, senti-me no papel daquele pai, mentido para que o filho nunca saiba sobre certas verdades (o holocausto). É preciso acreditar nas pessoas, sempre precisamos de gente. É preciso acreditar na fada do dente. Eu acredito em tudo isso, depois que vocês nasceram, pois, a partir disso, nasceu em mim uma nova esperança, uma nova fantasia. Há muito tempo eu não conversava com Deus, hoje vejo-o em cada minúscula partícula de vocês. Não é dia dos pais, nem dia das crianças. Mas qualquer dia é oportuno para dizer que amo vocês.