Era para ti que o meu dia clareava mais... Aíla Sampaio
Era para ti que o meu dia clareava mais cedo e as ruas acordavam para escutar o abrir das portas, o caminhar lento das horas sob o cheiro quente do café coado. Era para ti que as calçadas se alargavam para o movimento da manhã; que nascia o sol e as árvores faziam sombra. A vida vista da janela tinha a moldura que eu quisesse, porque os olhos eram meus e o que eu via te dava, porque a ti deveriam pertencer todas as coisas serenas que atravessavam o meu caminho. E foste aos poucos vendo a nuvem que fugia pra desencantar a lua, as horas correndo apressadas sobre os paralelepípedos e as estrelas unindo nossos olhares no firmamento. E foste entendendo que, no ir-e-vir de todas as coisas, já não apenas sou; já não apenas és: SOMOS.