EPIFANIA Tocam a campanhia. Mas que... somary

EPIFANIA

Tocam a campanhia. Mas que hora...
Hora de por a mesa, de esperar os filhos.
Atendo. Como sempre, é mecânico, ou epifânico?
É sempre um andarilho que, veladamente, tudo pede:
o pouco que ouvimos e o muito que não.
Volto com dois potes, de margarina,
que sempre guardo para esse se dar:
feijão com arroz, carne de panela em um,
noutro salada e por cima deles,
no papel toalha, um pão e uma colher de plástico.
Tudo é descartável, menos o amor com que embrulhei.
Ao entregar, comento:
- Tá quente hoje!
- De onde eu venho é mais quente ainda.
- E de onde o senhor vem?
Pronto! É a senha. A chave que abre a porta
que nos separa e nos segrega do amor ao próximo
(que não basta ser amor, tem que ser incondicional).
Feita a conexão, ouço a história, me acrescento,
partilho meu tempo, me dôo em palavras de alento.
Com poucos dentes e um sorriso aberto
que mais me parece um abraço
ele me abençoa e vai. Eu agradeço e entre.
Do meio da rua, se volta e me chama:
- ô dona...
- Pois não.
- A senhora tem o Espírito Santo!
Sorrio. Meu coração transborda. Eu sei.
Hoje foi dessa maneira
que DEUS bateu à minha porta.