Permita-me contar-lhe um segredo. Eu já... Cecília Almeida
Permita-me contar-lhe um segredo. Eu já tentei ser uma garota normal, e sou, dentro da minha anormalidade, eu sou normal. Mas, eu falo que já tentei ser como os outros. Sim, por conveniência eu já cedi as aparências, fingi por muito tempo ser o que não sou, emiti emoções que eu não senti, menti sobre sentimentos que não me pertenciam, hipocrisia ou não, só tentei encontrar um lugar em meio aos demais. Por que eu não posso ser como todo mundo? Por que eu sou a única que não ri da piada? Por que sou a única que não consegue se situar? Qual o meu problema, afinal? Obriguei-me a rir com eles, obriguei-me a sorrir para eles. Sim, eu seria como todo mundo. Encontraria o meu lugar entre eles, e, estranha ou não, ensaiaria o meu comportamento para parecer igual. E sim, eu fiz isso. Me saí bem, até. Pensei por um tempo, mas só pensei, ter um lugar entre eles. Mas, meu Deus, o que estou fazendo? Obrigando-me a ser igual? Convertendo-me a uma vida que não é minha apenas para ser aceita? Eu gosto do escuro da noite, do silêncio dos olhos, gosto do meu café amargo, gosto das músicas tristes. Sou nostálgica, melancólica, amarga... Sou eu, eu sou eu, eu preciso ser eu. Não há outro assim. Eu já olhei nos olhos da escuridão, e eu posso jurar, eles sorriram para mim. Mas qual louco acreditaria em mim?