Um Pro Outro - Gustavo Lacombe Só... Gustavo Lacombe
Um Pro Outro - Gustavo Lacombe
Só entende o tempo quem decide não jogar contra. Quem o deixa agir em seus propósitos e fluir com seu caminhar lento, natural e tedioso. Não é fácil. Nunca é. Ser amigo do mesmo cara que te lembra da dor é paradoxal. E, ainda assim, vez ou outra ele mostra o porquê de existir.
Como naquele dia.
Encontrá-la foi surpresa. As cidades, por maiores que pareçam, nos fazem esbarrar em cada esquina com alguém conhecido. Mas não passava pela minha cabeça que naquela segunda sem graça seríamos colocados cara a cara, frente a frente. Coração na mão, a voz rouca.
- Oi, tudo bem? - disse sem muita certeza de que aquilo estava realmente acontecendo. Cadê a câmera escondida?
Ainda lindo, eu pensei. Com aquela barba por fazer e a mesma cara de despreocupação de quem toca solos de guitarra enquanto a casa pega fogo - ou quando eu estava atrasada pro trabalho.
Houve um tempo em que acreditava que tivéssemos sidos feitos um pro outro. O tempo me mostrou que ainda estávamos longe disso. Tivemos "n" razões pra seguir. Ele mudou, mas não mudou. Entendem? Talvez esteja mais homem, só que a cara do menino que falava besteiras sem pensar ainda está lá.
- Tudo e você? - respondi, igualmente surpresa.
Pergunto sobre o que passou ou vou direto numa proposta presente? Será que está tão na cara que o encanto ainda brilha nos meus olhos? Chamo pra um jantar, uma volta na Lagoa, um happyhour? Deixo que o acaso decida um próximo encontro? Lógica, razão, destino, sorte - preciso de um sinal sobre o que fazer.
Ora, o sinal estava no encontro. Decidido pela coincidência das rotinas, pela sorte dos passos dados na mesma direção e do destino que o acaso decidiu. Nada vai fazer desandar agora.
Por isso é que eu estou aqui.