SERRA A serra sempre ao longe, A... André Zanarella

SERRA

A serra sempre ao longe,
A procissão puxada pelo monge.
Sempre morei nos vales,
Admirei os dançarinos nos bailes.
Tive meu ritmo apressado,
Queimei etapas mesmo estando cansado.
Perdi-me nos meus sonhos da juventude
Seria esse o motivo de minha inquietude?
Não sei mais quem eu fui quem eu sou,
Sei apenas onde estive e onde estou.
Quando de mim foi arrancado as minhas asas?
Quando que eu passei a usar tantas couraças?
Hoje eu olho no espelho,
Não me reconheço no espelho.
Vejo algo:
Plebeu ou fidalgo?
Como pude ser tão mudado pela vida?
A mudança ocorreu em qual avenida?
A serra me persegue aonde vou.
Vejo-a em todo lugar que estou.
Mudei de morada
Mudei de namorada
E sempre estou em outro vale
Esperando a Dama de Negro para um Baile
Montanhas ao longe
A procissão puxada por um monge
Querer voar
Cansei de andar
Sem asas apenas aterrisso no solo fértil
Não sou semente estéril
Devia brotar e renascer
O que pode acontecer?
Fico estático.
Sou simpático
Mesmo assim viro humo
Acabo-me em auto-consumo
Viro fertilizante
De ideias e não de uma gestante.
O apodrecimento pode ter nome romântico,
Posso até transformá-lo num cântico.
A serra sempre está longe
A montanha me lembra dum monge.
O antigo dono do castelo amputou minhas asas,
Queimou minhas feridas com brasas,
Sou um sonhador e perdi meu objetivo
Hoje sem asas e caducando tudo é relativo,
Virei cego num mundo de gatunos,
Os anos me são inoportunos.
Agora quero chegar às montanhas
Para isso terei que fazer inúmeras façanhas
Mas como?

André Zanarella 12-11-2012
http://www.recantodasletras.com.br/poesias/4536334