Fecho os olhos na esperança de... Dandara Brito Figueredo
Fecho os olhos na esperança de encontrar minha inspiração. Sem paisagens bonitas, nem influências externas. Eu, apenas eu, e um emaranhado sem fim de sentimentos confusos que, por vezes, me roubam a lógica que tanto prezo. Vão-se as certezas e resta somente um coração batendo no ritmo da música que invade os meus ouvidos e que me torna ainda mais sensível a um sentimento que me avessa da cabeça aos pés, e que me faz querer sonhar, mesmo com a possibilidade, sempre bem presente, de ser forçada acordar em um súpeto. Como em um daqueles sonhos em que se cai de um precipício tão rapidamente que o ar abandona os pulmões instantaneamente, com o chão cada vez mais próximo e a queda cada vez mais certa. E o que fazer com aquela sensação de que nada resta a não ser juntar os pedaços ou de, tão somente, esperar o tempo varrer a bagunça que ficou? Quem disse que se apaixonar era fácil, afinal de contas? E, depois de tudo, resta aquela falsa ideia de que tudo o que vivemos são consequências de nossas próprias escolhas, quando, na verdade, não houveram se quer chances de se ponderar sobre qualquer coisa que não fosse como aquele abraço congelou o mundo ao redor. Ou sobre como, quase que milagrosamente, o cérebro conseguiu enviar a mensagem da necessidade de se respirar enquanto os lábios se encontravam em uma perfeita sincronia. Quando o toque na alma é tão forte, quando o chão some, por um milésimo de segundo, sob os pés, quem vai lembrar de se importa com o resto, afinal? E, no final, de olhos bem abertos questiono ser benção ou maldição esse sentir perigoso, isso de sonhar acordada por algo, alguém. Pergunto-me ainda se abster-me, em nome dos riscos, seria uma saída… Mas então sinto-me abençoada pelo risco e, até mesmo, pela queda. Tão somente por ter vivido algo capaz de me roubar o ar. Quem disse que precisa de lógica?