“Somos pequenas granadas de... Amanda Seguezzi
“Somos pequenas granadas de hesitação, não somos? Quem sabe até bombas atômicas implosivas. Flertes impulsivos, cartas que não foram enviadas, quiçá escritas. Somos lençóis de aromas distintos, hálitos, diferentes hálitos. Pra você o céu é vermelho, já o meu um cintilante lilás. E continuamos assim, um camuflado de folhas caídas. Calmaria que esvai junto ao vento. Tão leve... Somos as somas dos erros e as sobras das palavras. Somos o diminutivo de carinho: que não existe. Por que não sermos um? Somos aquelas frases clichês ditas no calor da hora, as malditas risadas durante um beijo. Um furacão que não cessa. Paz que não se acomoda, somos um trilho sem fim que não aceita paradas bruscas dentre as estações. E o que eu faço? Se procuro qualquer rastro teu nos variados desatinos dos querubins, em rostos indiferentes, eu procuro. Descubro então que tenho tratado a dor e não a causa dela, que não encontro a melodia que tanto preciso se não for me arrastando por tua rodovia de quase-estrelas. Até o tempo está me perdendo e parece não se importar. Em todos os sentidos, os opostos, os corretos, os incertos. Não acompanha meus rastros, minhas pegadas num sentido torto ou noutro que eu desconheça. Não se convence de que, por sentir demais, minhas direções se tornaram incontáveis. E era assim, apesar do teu todo ser uma tempestade infindável eu sempre me perguntava como conseguira roubar todo o brilho do sol só para si. Aí, entre as queixas, entre a curva do teu queixo, eu compreendo que também somos criminosos, eu com a selvageria imprudente do coração e tu com as gotas de mal-me-quer escorrendo pela boca disfarçadas de veneno doce. Rodopiávamos na mesma sinfonia, contudo não no mesmo ritmo. Os teus olhos expressavam a pressa, os meus procuravam conforto na eternidade de apenas um segundo. Eu até podia supor que éramos os suspeitos habituais de uma pesarosa mágoa que não traz culpa nem vontade, mas sim voracidade e descaso. Entendi que nossos laços, sanguíneos, sarcásticos, abrasadores não se encontravam nas mesmas vielas. Porque nós somos um camuflado de folhas caídas que correm por veias diferentes. Coágulos de finitos desamores.”
♦ No último segundo de vida a gente pensa em quem?