Nunca tive vontade de conhecer pessoas,... Laís Heidemann
Nunca tive vontade de conhecer pessoas, as achava sem algo que me interessasse, mas tinha aquela garota. Uma beleza estampada em seus 1,64 de 17 anos bem vividos. Haviam histórias em seus olhos e eu nunca tive a oportunidade de lê-las, porém, as más bocas sempre falam do seu último ano na antiga cidade e do rapaz que a enganou e soube espalhar aos quatro cantos sua vitória. Ela perdeu a esperança, e eu o fôlego. Lamentei por uma boca tão linda não ter o costume de abrir um sorriso, mas conseguia pegar seus momentos mais únicos de uma felicidade clandestina. Eu nunca tive certeza do que ela era, ou do que queria ser. Sei que Alice não era sociável e que fazia bom uso de sua voz ao cantar baixinho Beatles ao caminho da escola. Eu a via olhando as estrelas, tentando falar com alguém que viveria mais que ela. Poucos metros daqui, se encontrava a garota de cabelos escuros que caprichou na arte de me entreter. Ela era minha vizinha. Eu esperava que em algum momento ela me visse, ou me notasse, mas Alice sabia das palavras soltas em seu olhar e por isso olhava apenas para o chão. Ela nunca soube o quão bonita era, e decidiu testar sua coragem. Ah, Alice, mal sabia ela que coragem não se testa assim. Não se atira de cima de um prédio pra saber que está viva. Ela existiu, mas viver foi apenas o tempo do voo que sempre almejou. Ela sempre será lembrada por aqueles que a viram com olhos de garota inocente e desnorteada, mas mesmo assim, não sabiam da sua dor. Sua inexplicável dor por aquilo que nunca fora consertado. Eu tentaria, se ao menos pudesse descobrir o que a fez subir os dez andares e descer em queda livre. Mas agora é tarde. Naquela única noite em que eu resolvi sair da janela, ela tomou seu rumo. Se eu desistisse da ideia de ficar sem olhá-la, quem sabe eu teria a salvado. A salvado de si mesma.