“Tem gente que deixa a nossa vida mais... Amanda Seguezzi
“Tem gente que deixa a nossa vida mais bonita, e chego até a suspeitar que morem em algum beco do arco-íris. Acho que os invejo de certa forma, porque do meu ponto de vista as estrelas estão espalhadas ao chão e eu nunca teria a capacidade que pregá-las junto ao céu de novo. Vejo um mundo antagônico com cores invertidas, ventos contrários e até me acomodo no avesso. Já não me reconheço e isso é uma das piores sensações que se pode existir. Tem gente que é tão linda por dentro que chego até a cogitar que tomem perfume doce. Elas não conhecem conversas, muito menos sentimentos unilaterais, e eu também as invejo, uma vez que sempre acabo confirmando a teoria de que o mundo é uma fábrica de chateações. A partir disto, vou me enchendo de coisas inacabadas, meia garrafa de vinho barato, meio cigarro, meia-vida. Valorizando objetos inanimados e seres humanos do mesmo escalão, evitando a refração dos raios solares e até me aliando aos redemoinhos convidativos que passam por aqui de vez em quando. E não há o que me comova ou fé que aguente, paz em outros tons, esperança de cheiro afetivo. Porque assim que a solidão me surra eu a encaro com pesar, ela até sorri com os olhos e me faz acreditar que meu coração apenas acordou mal humorado. E com a mesma frequência com a qual eu tento me reinventar, percebo que sou parte de um todo indivisível, que apenas mostro aos outros o que os cativa e encanta. Na verdade, sinto a podridão de dentro e o recesso da alma, sinto uma verdade escondida bem no fundo de onde nunca pensei em procurar. E eu sinto muito, mas não por mim. Partindo do pressuposto que de nada me importa e que por muitas vezes até consegui me imaginar sendo feliz com alguém nesse muro de lamentações. Mas não importa. Saúde é o que importa. Saúde absoluta que não se compra em farmácia, amor muito menos. E saúde e amor nem sempre são relativos, o que me intriga, porque eu me sinto saudável quando as pessoas que me rodeiam se encaixam em metáforas que ouso até afirmar como amores reais. E até que gosto. Porque meu coração palpita esperança repentina quando vem o cheiro de calmaria dentro de um livro. Porque o meu coração fareja doses inconstantes de confiança de quem está disposto a ser lido e não ter medo do resultado. Tem gente que traz nos olhos milhares de fogos de artifícios e eu até desconfio que eles cultivem furacões. E se as tempestades da alma forem igual um pré-temporal de fim de tarde, eu até consigo encher o meu vazio de sentimento bom e ser feliz por alguns minutos. Ou horas.”